A cafeína tem efeitos de longo
alcance sobre o cérebro. Isso não é inesperado, uma vez que ela é a bebida
escolhida pela América para o desjejum matutino. Porém, um preço elevado é pago
por essa estimulação. Vamos dar uma olhada em como a cafeína trabalha e então
explorar alguns de seus efeitos colaterais associados.
A cafeína afeta o sistema de
comunicação cerebral de vários modos. Ao exploramos essas relações, precisamos
lembrar-nos de que as células cerebrais comunicam-se umas com as outras
mediante intercâmbios químicos. As células nervosas liberam substâncias
químicas chamadas neurotransmissores (ou "mensageiros químicos"), que
são coletadas pelas células vizinhas. Esses neurotransmissores produzem
mudanças nas células que os recebem. Alguns neurotransmissores causam excitação
da célula nervosa recipiente, enquanto outros produzem depressão. A influência
exercida pela cafeína focaliza-se principalmente em sua habilidade de afetar os
níveis de dois transmissores: acetilcolina e adenosina. A cafeína interrompe a
química do cérebro, aumentando o nível de acetilcolina e interferindo na
transmissão da adenosina. Assim, a cafeína transtorna o delicado equilíbrio da
transmissão nervosa no cérebro, o que pode ter conseqüências devastadoras. A
adenosina reduz (ou refreia) muitos
aspectos da transmissão nervosa. Mas a cafeína debilita seu poder de realizar
esse trabalho, porquanto permite a excitação artificial do cérebro. Para uma
pessoa leiga, a adenosina pode parecer um "mau-caráter‖. Afinal de contas, qual é o indivíduo que quer
deprimir sua transmissão cerebral? Talvez possamos ver essa questão mais
claramente considerando uma analogia: a importância de ter bons freios num
automóvel. Você não entra em seu automóvel para ficar parado, mas para ir a
algum lugar. Porém, você não se sentiria confortável dirigindo um automóvel que
não tivesse a capacidade de parar. Bons freios são essenciais — especialmente
num veículo destinado a andar. Semelhantemente, neurotransmissores como a
adenosina, que têm um papel essencial nesse ―sistema de freios‖, são muito importantes para o equilíbrio do cérebro.
Há sérias preocupações observadas na literatura psiquiátrica sobre o papel da
cafeína na produção do desequilíbrio mental. A cafeína tem sido ligada à
ansiedade, neurose de ansiedade, psicose (um estado onde a pessoa perde o
contato com a realidade) e esquizofrenia, a assim chamada desordem da
―personalidade dividida".1
Outros cientistas acrescentam a essa
lista o delírio produzido pela cafeína e a anorexia nervosa.2 Um
terceiro neurotransmissor chamado de dopamina se eleva quando você ingere uma
bebida cafeinada.3,4, Isso é extremamente inquietante. Algumas das mais
graves doenças psiquiátricas como esquizofrenia, parecem ter em parte origem
nas quantidades excessivas de dopamina. Na realidade, a terapia medicamentosa
padrão para essa séria desordem mental envolve o uso de agentes bloqueadores de
dopamina.5 Conseqüentemente, não parece surpreendente que a
cafeína — um agente elevador dos níveis de dopamina — aumente o risco de certas
doenças mentais, embora possa parecer inofensiva superficialmente. Outras
doenças psiquiátricas — com profundos efeitos sobre o lobo frontal —podem ser o
resultado de um desequilíbrio causado pela cafeína nas comunicações cerebrais.
Isso é particularmente verdadeiro com respeito à depressão. A diminuição da
função do lobo frontal e do fluxo sanguíneo parecem ser característica da
depressão.6,7 A pesquisa indica que essas mudanças podem estar
parcialmente relacionadas aos níveis de dopamina no lobo frontal.8 Reconhecendo que
a cafeína se opõe ao papel da adenosina no provimento de um bom fluxo sanguíneo
para o cérebro e desequilibra a fisiologia da dopamina, perguntamo-nos se há
uma ligação entre uso de cafeína e a depressão. Um projeto de pesquisa norueguês
internacionalmente reconhecido como Estudo Cardíaco Tromso, proveu ao menos uma
resposta parcial. Os pesquisadores escandinavos estudaram 143.000 homens e
mulheres, e descobriram um significativo aumento da depressão em mulheres que
eram bebedoras inveteradas de café (mas não em homens que usaram quantidades
semelhantes da bebida). Os resultados são mostrados na Figura 15: Consumo de
Café e Problemas Mentais.9 Além da ligação com a depressão, as mulheres que
consumiram maiores quantidades de café também tiveram mais problemas com o
estresse. A razão por que esses efeitos não apareceram nos homens não está
clara. Isso pode indicar que as mulheres são mais suscetíveis à cafeína ou
refletir a exploração, por parte desse alcalóide, de uma maior predisposição
feminina à depressão.
Fonte:
1 Kruger A. Chronic psychiatric
patients’ use of caffeine: pharmacological effects and mechanisms. Psychol Rep
1996 Jun;78(3 Pt 1):915-923.
2 Edelmann RJ, Moxon S. The
effects of caffeine on psychological functioning. Nutr Health 1985;4(1):29-36.
3 Ferre S, Popoli P, et al.
Postsynaptic antagonistic interaction between adenosine A1 and dopamine D1
receptors. Neuroreport 1994 Dec 30;6(1):73-76.
4 Ferre S, O’Connor WT, et al.
Antagonistic interaction between adenosine A2A receptors and dopamine D2
receptors in the ventral striopallidal system. Implications for the treatment
of schizophrenia. Neuroscience 1994 Dec;63(3):765-773.
5 Baldessarini RJ. Drugs and
the treatment of Psychiatric disorders. In: Gilman AG, Goodman LS, et al,
editors. Goodman and Gilman’s The Pharmacologic Basis of Therapeutics—7th
edition. New York, NY: MacMillan Publishing Company, 1985 p. 396-397, 595.
6 George MS, Ketter TA, Post
RM. SPECT and PET imaging in mood disorders. J Clin Psychiatry 1993 Nov;54
Suppl():6-13.
7 Passero S, Nardini M,
Battistini N. Regional cerebral blood flow changes following chronic
administration of antidepressant drugs. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry
1995 Jul;19(4):627-636.
8 Passero S. Nardini M.
Battistini N Regional cerebral blood flow changes following chronic
administration of antidepressant drugs. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry
1995 Jul;19(4):627-636.
9 Jacobsen BK , Hansen V.
Caffeine and health. Br Med J (Clin Res Ed) 1988 Jan 23;296(6617):291.
Obs.: Extraido de artigo para a classe de Religião e Saúde do Seminário Adventista Latino Americano de Teologia/IAENE