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domingo, 4 de agosto de 2013

Só para quem Curti tomar café 1ª parte

A cafeína tem efeitos de longo alcance sobre o cérebro. Isso não é inesperado, uma vez que ela é a bebida escolhida pela América para o desjejum matutino. Porém, um preço elevado é pago por essa estimulação. Vamos dar uma olhada em como a cafeína trabalha e então explorar alguns de seus efeitos colaterais associados.
A cafeína afeta o sistema de comunicação cerebral de vários modos. Ao exploramos essas relações, precisamos lembrar-nos de que as células cerebrais comunicam-se umas com as outras mediante intercâmbios químicos. As células nervosas liberam substâncias químicas chamadas neurotransmissores (ou "mensageiros químicos"), que são coletadas pelas células vizinhas. Esses neurotransmissores produzem mudanças nas células que os recebem. Alguns neurotransmissores causam excitação da célula nervosa recipiente, enquanto outros produzem depressão. A influência exercida pela cafeína focaliza-se principalmente em sua habilidade de afetar os níveis de dois transmissores: acetilcolina e adenosina. A cafeína interrompe a química do cérebro, aumentando o nível de acetilcolina e interferindo na transmissão da adenosina. Assim, a cafeína transtorna o delicado equilíbrio da transmissão nervosa no cérebro, o que pode ter conseqüências devastadoras. A adenosina reduz (ou  refreia) muitos aspectos da transmissão nervosa. Mas a cafeína debilita seu poder de realizar esse trabalho, porquanto permite a excitação artificial do cérebro. Para uma pessoa leiga, a adenosina pode parecer um "mau-caráter. Afinal de contas, qual é o indivíduo que quer deprimir sua transmissão cerebral? Talvez possamos ver essa questão mais claramente considerando uma analogia: a importância de ter bons freios num automóvel. Você não entra em seu automóvel para ficar parado, mas para ir a algum lugar. Porém, você não se sentiria confortável dirigindo um automóvel que não tivesse a capacidade de parar. Bons freios são essenciais — especialmente num veículo destinado a andar. Semelhantemente, neurotransmissores como a adenosina, que têm um papel essencial nesse ―sistema de freios, são muito importantes para o equilíbrio do cérebro. Há sérias preocupações observadas na literatura psiquiátrica sobre o papel da cafeína na produção do desequilíbrio mental. A cafeína tem sido ligada à ansiedade, neurose de ansiedade, psicose (um estado onde a pessoa perde o contato com a realidade) e esquizofrenia, a assim chamada desordem da ―personalidade dividida".1 Outros cientistas acrescentam a essa lista o delírio produzido pela cafeína e a anorexia nervosa.2 Um terceiro neurotransmissor chamado de dopamina se eleva quando você ingere uma bebida cafeinada.3,4, Isso é extremamente inquietante. Algumas das mais graves doenças psiquiátricas como esquizofrenia, parecem ter em parte origem nas quantidades excessivas de dopamina. Na realidade, a terapia medicamentosa padrão para essa séria desordem mental envolve o uso de agentes bloqueadores de dopamina.5 Conseqüentemente, não parece surpreendente que a cafeína — um agente elevador dos níveis de dopamina — aumente o risco de certas doenças mentais, embora possa parecer inofensiva superficialmente. Outras doenças psiquiátricas — com profundos efeitos sobre o lobo frontal —podem ser o resultado de um desequilíbrio causado pela cafeína nas comunicações cerebrais. Isso é particularmente verdadeiro com respeito à depressão. A diminuição da função do lobo frontal e do fluxo sanguíneo parecem ser característica da depressão.6,7 A pesquisa indica que essas mudanças podem estar parcialmente relacionadas aos níveis de dopamina no lobo frontal.8 Reconhecendo que a cafeína se opõe ao papel da adenosina no provimento de um bom fluxo sanguíneo para o cérebro e desequilibra a fisiologia da dopamina, perguntamo-nos se há uma ligação entre uso de cafeína e a depressão. Um projeto de pesquisa norueguês internacionalmente reconhecido como Estudo Cardíaco Tromso, proveu ao menos uma resposta parcial. Os pesquisadores escandinavos estudaram 143.000 homens e mulheres, e descobriram um significativo aumento da depressão em mulheres que eram bebedoras inveteradas de café (mas não em homens que usaram quantidades semelhantes da bebida). Os resultados são mostrados na Figura 15: Consumo de Café e Problemas Mentais.9 Além da ligação com a depressão, as mulheres que consumiram maiores quantidades de café também tiveram mais problemas com o estresse. A razão por que esses efeitos não apareceram nos homens não está clara. Isso pode indicar que as mulheres são mais suscetíveis à cafeína ou refletir a exploração, por parte desse alcalóide, de uma maior predisposição feminina à depressão.

Fonte:
1 Kruger A. Chronic psychiatric patients’ use of caffeine: pharmacological effects and mechanisms. Psychol Rep 1996 Jun;78(3 Pt 1):915-923.
2 Edelmann RJ, Moxon S. The effects of caffeine on psychological functioning. Nutr Health 1985;4(1):29-36.
3 Ferre S, Popoli P, et al. Postsynaptic antagonistic interaction between adenosine A1 and dopamine D1 receptors. Neuroreport 1994 Dec 30;6(1):73-76.
4 Ferre S, O’Connor WT, et al. Antagonistic interaction between adenosine A2A receptors and dopamine D2 receptors in the ventral striopallidal system. Implications for the treatment of schizophrenia. Neuroscience 1994 Dec;63(3):765-773.
5 Baldessarini RJ. Drugs and the treatment of Psychiatric disorders. In: Gilman AG, Goodman LS, et al, editors. Goodman and Gilman’s The Pharmacologic Basis of Therapeutics—7th edition. New York, NY: MacMillan Publishing Company, 1985 p. 396-397, 595.
6 George MS, Ketter TA, Post RM. SPECT and PET imaging in mood disorders. J Clin Psychiatry 1993 Nov;54 Suppl():6-13.
7 Passero S, Nardini M, Battistini N. Regional cerebral blood flow changes following chronic administration of antidepressant drugs. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 1995 Jul;19(4):627-636.
8 Passero S. Nardini M. Battistini N Regional cerebral blood flow changes following chronic administration of antidepressant drugs. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 1995 Jul;19(4):627-636.

9 Jacobsen BK , Hansen V. Caffeine and health. Br Med J (Clin Res Ed) 1988 Jan 23;296(6617):291.

Obs.: Extraido de artigo para a classe de Religião e Saúde do Seminário Adventista Latino Americano de Teologia/IAENE