Por que ter orientações sobre esse assunto?
Em tempos onde a política e a religião se cruzam
permanentemente com impacto direto na vida dos religiosos, sentimos a
necessidade de deixar claro o posicionamento mais adequado aos cristãos frente
a temas relacionados à política e eleições. Ao mesmo tempo em que não somos
proprietária e nem incentivamos a participação em partidos políticos por parte
de seus leitores, o Salvos da Cruz também reconhece seu papel dentro
da sociedade como uma organização ativa e envolvida com questões pertinentes à
cidadania.
Nessa cartilha, são apresentadas abordagens sobre três
aspectos que julgamos importante dentro dessa temática e que são válidos para
todos os que estão acostumados a seguir as orientações bíblicas: os cristãos e
a política partidária, os Cristãos e as eleições e os cristãos e o
relacionamento com candidatos cristãos.
Há dois motivos principais para a produção dessa cartilha. O
primeiro é que as orientações funcionem como um guia conciso e unificado de
orientações a respeito do tema para que os cristãos compreendam o que pensamos.
Além disso, também serve como referência para que políticos e partidos entendam
como agir diante das igrejas cristãs e não criem quaisquer expectativas
diferentes das que ela se propõe.
Os Cristãos e a política partidária
Nesse assunto, as principais referências são os capítulos
“Nossa Atitude Quanto à Política” do livro Obreiros Evangélicos, páginas
391-396, e trechos do livro Fundamentos da Educação Cristã, páginas 475 a 484,
ambos escritos por Ellen White.
Existem pelo menos três princípios fundamentais que os
cristão precisam praticar sobre a política. Um deles é o princípio da separação
entre Igreja e Estado, o que leva a cada uma dessas entidades a cumprir suas
respectivas funções sem interferir nos negócios da outra. A Igreja crê que só
poderá preservar esse princípio por meio de uma postura denominacional sem
compromissos partidários, não se posicionando nem a favor e nem contra
quaisquer regimes ou partidos políticos.
A Igreja encontra nos ensinos de Cristo e dos apóstolos base
suficiente para evitar qualquer militância política institucional. O
cristianismo apostólico cumpria sua missão evangélica sob as estruturas
opressoras do Império Romano sem se voltar contra elas. O próprio Cristo
afirmou que o Seu reino “não é deste mundo” e que, por conseguinte, os Seus
“ministros” não empunham bandeiras políticas (João 18:36). Qualquer compromisso
político ou partidário por parte da denominação dificultaria a pregação do
“evangelho eterno” a todos os seres humanos indistinta-mente (Mateus 24:14;
Apocalipse 14:6).
Outro princípio fundamental é que o nível de justiça social
de um país é diretamente proporcional ao nível de justiça individual de cada um
dos seus cidadãos, e que esta justiça individual, por sua vez, deriva do interior
da própria pessoa. Reconhecendo as dimensões sociais do pecado, a Igreja apoia
e mesmo participa de projetos sociais e educacionais que beneficiam a vida
comunitária sem conflitarem com os princípios bíblicos. Muitos desses projetos
são levados a efeito em nome da sua agência humanitária ADRA (Agência de
Desenvolvimento e Recursos Assistenciais), outros pela ASA (Ação Solidária
Adventista) e demais departamentos da Igreja Adventista. No entanto, a Igreja
não participa de quaisquer greves e passeatas de índole política e partidária
que acabariam comprometendo sua postura de não defender qualquer partidarismo.
O cristianismo não isenta os cristãos dos seus deveres civis
e isso está evidente na ordem de Cristo: “Dai a César o que é de César e a Deus
o que é de Deus.” Marcos 12: 17. O Novo Testamento apresenta várias orientações
a respeito do dever cristão de honrar os governos civis como instituídos por
Deus (ver Romanos 13:1-7; Tito 3:1 e 2; I Pedro 2:13-17). Somente quando tais
governos obrigam seus súditos a transgredirem as leis divinas é que o cristão
deve assumir a postura de que “antes, importa obedecer a Deus do que aos
homens” (Atos 5:29).
Orientações práticas Para os Cristãos
1. O cristão não apoia e
nem possui partidos políticos e nem repassa recursos a essas organizações por
entender que adota uma postura não partidária.
2. O cristão não permite
que, em seus templos, sejam realizadas reuniões com finalidade
político-partidária ou de cunho eleitoral.
3. O cristão não mantém
bancada de parlamentares em nível municipal, estadual e federal e nem de
líderes políticos de quaisquer regiões administrativas ou demais países que
fazem parte da Divisão Sul-Americana.
Os Cristãos e as eleições
Além da Bíblia Sagrada, os adventistas usam como referência
para esse assunto os escritos de Ellen White, escritora norte-americana e
cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia. O assunto está presente em
vários de seus livros.
Na edição da revista Review and Herald, de 15 de outubro de
1914, em artigo reproduzido no livro Obreiro Evangélicos, páginas 384-388,
Ellen White enfatizou a responsabilidade de cada cidadão exercer toda
influência dentro do seu poder para refrear o tráfico de bebidas alcoólicas,
incluindo seu voto: “Mesmo não sendo sábio nos envolvermos em questões
políticas, ainda assim é nosso privilégio tomar uma posição decidida sobre
todas as questões relacionadas à reforma da temperança. Tenho dado muitas vezes
a esse respeito um claro testemunho”. Em um artigo publicado na Review de 8 de
novembro de 1881, ela escreveu: “Há uma causa para a paralisia moral da
sociedade. Nossas leis apoiam um mal que lhes está destruindo a própria base.
Muitos lamentam o mal que sabem existir, mas se consideram livres de qualquer
responsabilidade no assunto. Isso não pode ser. Todo indivíduo exerce uma
influência na sociedade. Em nossa terra favorecida, todo eleitor tem de certo
modo voz em decidir que espécie de leis hão de reger a nação. Não deviam sua influência
e voto ser postos do lado da temperança e da virtude? Podemos apelar para os
amigos da temperança, a fim de que promovam a união para o conflito, e para
procurar impedir a onda do mal que está desmoralizando o mundo; mas de que
valem todos os nossos esforços, enquanto os negociantes de bebidas alcoólicas
forem apoiados por lei?
“Falamos nos resultados, trememos em face deles, e cogitamos
no que poderemos fazer com esses terríveis resultados, ao passo que, muitas
vezes, toleramos, e até sancionamos a causa dos mesmos. Os defensores da
temperança deixam de cumprir todo o seu dever, a menos que exerçam sua
influência, pela palavra e pelo exemplo – palavra, pena e voto – em favor da
proibição e abstinência total. É escusado pensar que Deus opere um milagre para
efetuar essa reforma, afastando assim a necessidade de esforço de nossa parte.
Nós mesmos precisamos de agarrar-nos com esse gigante inimigo, tendo como
divisa: não transigir, nem cessar nossos esforços até que a vitória seja
alcançada.’” (Review and Herald, 15 de outubro de 1914; citado em Obreiros
Evangélicos, páginas 387 e 388 e Temperança, páginas 253 e 254).
Fica claro nesses e em outros textos que os adventistas
devem optar, na hora do voto, por candidatos que promovam, em suas ideias de
campanha, conceitos em favor da saúde, da temperança (uso equilibrado dos
recursos naturais) e defendem o direito à liberdade de expressão religiosa. Já
que, em muitos países, o voto é obrigatório e é prudente que se respeitem as
leis, o ideal é privilegiar candidatos com esse perfil.
Orientações práticas aos cristãos
1. Recomendamos que os cristãos
participem das eleições em seus países desde que nessas ocasiões não haja
qualquer incompatibilidade com os princípios bíblicos defendidos pela Igreja.
2. É orientado que os cristãos votem em
candidatos que defendam os princípios de temperança – o que inclui combate ao
fumo e bebidas alcoólicas – questões de liberdade de expressão religiosa,
separação entre Igreja e Estado e que efetivamente tenham propostas concretas
para melhorar a qualidade de vida da população em geral especialmente nas áreas
de saúde, educação e família. Mas não há qualquer orientação quanto a voto em
candidatos de determinados partidos políticos.
3. Pastores, líderes
locais ou profissionais cristãos não devem promover candidatos em cultos
regulares ou demais programas oficiais da Igreja, tampouco nas sedes
administrativas e instituições educacionais, de saúde ou sedes de projetos da
ADRA. A Igreja não apoia a mobilização para que sejam dados votos a um
determinado candidato.
4. É vedado o uso
do dízimo para pagamento de qualquer pessoa para fazer discursos sobre questões
políticas.
Candidatos Cristãos
Entre os direitos do cristão no exercício de sua cidadania
está o de ocupar cargos políticos. O Antigo Testamento menciona vários membros
do povo de Deus que exerceram funções de grande projeção no governo de
importantes nações pagãs da época. Por exemplo, José foi por muitos anos
primeiro ministro do Egito, a mais importante nação da época (Gênesis
41:38-45). Colocado por Deus sobre o trono daquele país (Gênesis 45:7, 8), José
se manteve “puro e imaculado na corte do rei”; e foi “um representante de
Cristo” aos egípcios (Medicina e Salvação, p. 36; Patriarcas e Profetas, p.
368-369). Daniel exerceu importantes cargos governamentais em Babilônia sob o
reinado de Nabucodonosor, Belsazar, Dario e Ciro (Daniel 2:48, 49; 5:11, 12,29;
6:1-3, 28; 8:27). Com um apego incondicional aos princípios divinos, Daniel e
seus com¬panheiros foram embaixadores do verdadeiro Deus na corte desses reis
(ver Daniel capítulos 1, 3 e 6). É interessante notar que José e Daniel foram
nomeados para suas funções públicas pelos próprios monarcas da época. Mas hoje,
na maioria das democracias modernas, as pessoas precisam se candidatar e
concorrer a tais funções em um processo bem mais competitivo. Embora a Igreja
normalmente não encoraje e nem desestimule a candidatura política dos seus
membros, ela também reconhece que a sociedade tem sido beneficiada pelo bom exemplo
de alguns políticos cristãos que concorrem honestamente a determinados cargos
públicos e os exercem dignamente, sem comprometerem com isso os princípios
bíblicos. A influência positiva de políticos adventistas tem sido decisiva, em
vários países, para o estabelecimento de legislações que facilitem a
observância do sábado.
Orientações práticas para os candidatos cristãos
1. Candidatos cristãos
não devem usar o púlpito e nem programas oficiais da Igreja para pedir votos.
2. É recomendado que os
cristãos que se candidatam a cargos públicos eletivos deixem suas funções na
igreja local.
3.Cristãos com cargos eletivos não possuem autorização para
falar em nome da Igreja em eventos, reuniões ou seminários.
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