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segunda-feira, 18 de junho de 2018

1 Coríntios | Capítulo 11

Uma vez que Paulo tem algumas observações negativas a fazer acerca da igreja no final desta seção, começa com um tom positivo, elogiando a igreja em Corinto. Duas questões em particular são consideradas louváveis: lembrava-se de Paulo e o apreciava e era fiel em guardar os costumes que recebera. O termo "tradições" refere-se aos ensinamentos que foram transmitidos de uma pessoa a outra (2 Tm 2:2). As tradições humanas devem ser evitadas (Mt 15:2, 3; CI 2:8), mas as tradições da Palavra de Deus devem ser observadas.

Um dos grandes problemas na igreja de Corinto era a desordem nas reuniões públicas. Algumas das mulheres usufruíam mais liberdades do que lhes era apropriado; havia tumulto durante a Ceia do Senhor e confusão no uso dos dons espirituais. A igreja fora grandemente enriquecida com dons espirituais, mas infelizmente lhe faltava as graças espirituais.

As igrejas evangélicas reconhecem duas ordenanças estabelecidas por Jesus Cristo e que devem ser observadas por seu povo: o batismo e a Ceia do Senhor (a Ceia também é chamada de Comunhão em 1 Coríntios 10:16, e de Eucaristia, que significa "dar graças"). Jesus Cristo tomou o cálice e o pão - elementos comuns de uma refeição naquela época - e os transformou em uma experiência espiritual significativa para os cristãos. No entanto, o valor da experiência depende do estado em que se encontra o coração dos que dela participam, e esse era problema em Corinto.

É algo extremamente sério participar da Ceia com o coração despreparado. Também é algo muito grave receber a Ceia de maneira descuidada. Uma vez que os coríntios pecavam em sua observância da Ceia do Senhor, Deus teve de discipliná-los. "Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem" (1 Co 11 :30).

A Ceia do Senhor é uma oportunidade de crescimento espiritual e de bênçãos, se participarmos com a atitude correta. O que devemos fazer, então, para a Ceia trazer bênçãos, não repreensão?

Em primeiro lugar, devemos olhar para trás (vv. 23·26a). O pão repartido nos lembra o corpo de Cristo dado por nós; o cálice representa seu sangue derramado. É impressionante o desejo de Jesus de que seus seguidores se lembrem de sua morte. A maioria de nós procura esquecer os detalhes sobre a morte de nossos entes queridos, mas Jesus deseja que lembremos como ele morreu. Isso porque sua morte é o cerne de tudo o que temos como cristãos.

Devemos lembrar o fato de haver morrido, pois sua morte faz parte da mensagem do evangelho: "Cristo morreu [...] foi sepultado" (1 Co 15:3, 4). Não é a vida de Cristo nem seus ensinamentos que salvam os pecadores, mas sua morte. Portanto, devemos nos lembrar do motivo de ter morrido: Cristo morreu por nossos pecados; foi nosso substituto (ls 53:6; 1 Pe 2:24), quitando uma dívida que jamais poderíamos pagar. 

Também devemos lembrar como ele morreu: voluntária e mansamente, demonstrando seu amor por nós (Rm 5:8). Entregou o corpo nas mãos de homens perversos e levou sobre si os pecados do mundo.

No entanto, essa "memória" não é apenas uma lembrança dos fatos históricos. Também é uma participação de realidades espirituais. Quando celebramos a Ceia do Senhor, não caminhamos ao redor de um monumento e o admiramos a distância. Temos comunhão com o Salvador vivo, do qual nos aproximamos pela fé.

Em segundo lugar, devemos olhar para a frente (v. 26b). Observamos a Ceia do Senhor "até que ele venha". A volta de Jesus Cristo é a esperança da Igreja e de cada cristão. Jesus Cristo não apenas morreu por nós, mas também ressuscitou e subiu ao céu e, um dia, voltará para nos levar para junto dele. Não somos hoje tudo o que devemos ser; mas quando o vermos, "seremos semelhantes a ele" (1 Io 3:2).

Em terceiro lugar, devemos olhar para dentro (w. 27, 28, 31, 32). Paulo não diz que devemos ser dignos de participar da Ceia, mas apenas que devemos fazê-lo de maneira digna. Em um culto de Ceia na Escócia, o pastor reparou que uma mulher da congregação não aceitou o cálice e o pão oferecidos pelo presbítero, mas apenas ficou sentada em seu lugar, chorando. O pastor dirigiu-se até ela e disse:

- Pode tomar, minha cara, a Ceia é para os pecadores!

De fato, é, mas os pecadores salvos pela graça de Deus não devem tratar a Ceia de maneira pecaminosa.

A fim de participar dignamente, é preciso examinar o coração, discernir os pecados e confessá-los ao Senhor. Tomar a Ceia com pecados não confessados no coração é se tornar réu do corpo e do sangue de Cristo, pois foi o pecado que o pregou à cruz. Se não discernirmos nossas transgressões, Deus nos julgará e disciplinará até que confessemos e deixemos esses pecados.

Os coríntios não examinavam a si mesmos, mas eram especialistas em examinar a vida de todo mundo. Quando a igreja se reúne, devemos ter o cuidado de não nos tornarmos "detetives religiosos" que se dedicam a vigiar os outros, incapazes de reconhecer os próprios pecados. Se comemos e bebemos indignamente, comemos e bebemos julgamento (disciplina) para nós mesmos, algo que não deve ser considerado levianamente.

A disciplina é a maneira carinhosa de Deus tratar com seus filhos e filhas e de encorajá-los a amadurecer (Hb 12:1-11). Não é como a sentença de um juiz condenando um criminoso, mas como a repreensão de um Pai amoroso, que castiga os filhos desobedientes (e, possivelmente, obstinados). A disciplina é uma prova do amor de Deus por nós e, se cooperarmos, pode aperfeiçoar a vida de Deus em nós.

Por fim, devemos olhar a nosso redor (w. 33, 34). Não se deve fazer isso com o objetivo de criticar outros cristãos, mas sim de discernir o corpo do Senhor (1 Co 11 :29). É possível que essa frase tenha um sentido duplo: devemos reconhecer seu corpo no pão e também na igreja a nosso redor - pois a igreja é o corpo de Cristo. "Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo" (1 Co 10:17). A Ceia deve ser uma demonstração de união na igreja -, mas a igreja de Corinto não era muito unida. Na verdade, sua celebração da Ceia do Senhor era apenas uma demonstração de sua desunião.

A Ceia do Senhor é uma refeição em família, e o Senhor da família deseja que seus filhos amem uns aos outros e cuidem uns dos outros. É impossível um cristão verdadeiro aproximar-se do Senhor e, ao mesmo tempo, se manter separado de seus irmãos e irmãs em Cristo. De que maneira podemos lembrar a morte de Jesus Cristo se não amamos uns aos outros? "Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros" (1 Jo 4:11 ).

Nenhuma pessoa que não é verdadeiramente convertida deve tomar a Ceia. Também um cristão não deve tomar a Ceia se seu coração não estiver em ordem com Deus e com seus irmãos e irmãs em Cristo. É por isso que várias igrejas têm um tempo de preparação espiritual antes de realizar a Ceia, a fim de que nenhum dos participantes traga disciplina sobre si mesmo. lembro-me de um membro de igreja que me procurou e contou de uma derrota pessoal que não apenas o havia prejudicado espiritualmente, como também havia sido "divulgada" por outros e estava prestes a envergonhar a ele
e à igreja.

- O que posso fazer para colocar a situação em ordem? - ele me perguntou, convencendo - me de que havia, de fato, discernido e confessado seu pecado. lembrei-o de que, na semana seguinte, realizaríamos a Ceia do Senhor e sugeri que pedisse a orientação de Deus. Na noite da Ceia, comecei a celebração de uma forma como nunca havia feito antes.

- Há alguém que gostaria de compartilhar alguma coisa com a igreja? - perguntei. Meu amigo arrependido colocou-se em pé e veio à frente, onde parou a meu lado junto à mesa da Ceia. De maneira tranqüila e concisa, reconheceu que havia pecado e pediu o perdão da igreja. Sentimos uma onda de amor vindo do Espírito tomar conta da congregação, e várias pessoas começaram a chorar. Naquela celebração da ceia, verdadeiramente discernimos o corpo de Cristo.

Apesar de a confissão ser um elemento importante, a Ceia não deve ser uma ocasião de "autópsia espiritual" e tristeza. Deve ser um tempo de ação de graças e expectativa jubilosa de ver o Senhor! Jesus sabia que, em breve, passaria por grande sofrimento e morreria, mas ainda assim deu graças. Façamos o mesmo. E o nosso primeiro passo será através de uma oração, se possível feche seus olhos para falarmos com Deus

Oração

Deus eterno e Pai amado, é com alegria no coração que mais uma vez nos achegamos ao trono da Graça certo de que o Senhor nos redimiu através do sacrifício de Jesus Cristo, e por meio da Santa Ceia mantém viva em nossa mente o cumprimento da promessa que está atrelada a morte de Jesus, seu breve retorno, ajuda-nos para que nunca participemos da Ceia com o coração endurecido as orientações do Espirito Santo, mais que sempre ela cumpra em nós o que ao rito está estabelecido, é o que te pedimos crendo no poder que a no nome de Jesus Amém.

Reynan Matos
Teólogo

Fonte:
Comentário Bíblico Expositivo Warren W. Wiersbe. p. 790-794