Pode-se dizer a favor dos cristãos de Corinto que, quando mandaram suas dúvidas para Paulo, perguntaram sobre a coleta que estava realizando para os cristãos pobres de Jerusalém. Paulo respondeu à sua pergunta e encerrou a carta informando a igreja de seus planos pessoais de viagem e também dos planos para seus colaboradores no ministério.
O capítulo 16 pode dar a impressão de não ter relação com nossas necessidades de hoje, mas, na verdade, trata de maneira bastante proveitosa de três áreas da mordomia: o dinheiro (1 Co 16:1-4), as oportunidades (1 Co 16:5-9) e as pessoas (1 Co 16:10-24). Esses são, provavelmente, os recursos mais preciosos da Igreja de nosso tempo e não devem ser desperdiçados.
Um dos ministérios mais importantes de Paulo durante sua terceira viagem missionária foi levantar uma oferta especial para os cristãos pobres de Jerusalém. O desejo do apóstolo era que essa oferta cumprisse vários propósitos. Em primeiro lugar, os gentios deviam uma ajuda material aos judeus em gratidão pelas bênçãos espirituais que estes lhes deram (Rm 15:25-27). Na assembléia de Jerusalém, alguns anos antes, Paulo havia concordado em "se lembrar dos pobres", de modo que cumpria esse compromisso (GI 2:10). Paulo não apenas pregava o evangelho, mas também tentava ajudar os que tinham necessidades físicas e materiais.
Por que a igreja de Jerusalém passava por tamanha carência? Éprovável que muitos cristãos fossem pessoas em visita a Jerusalém em Pentecostes, quando ouviram a Palavra de Deus e foram salvos. Isso significava que eram estrangeiros, que estavam desempregados e que a igreja precisaria cuidar deles. No início da igreja, os membros da comunidade cristã dividiam tudo entre si com prazer (At 2:41-47; 4:33-37); mas seus recursos eram limitados. Além disso, o povo de Jerusalém já havia passado por uma terrível escassez de alimentos (At 11 :27-30), e a oferta que haviam recebido nessa ocasião não deve ter durado muito tempo.
Além de cumprir sua promessa de suprir essa grande necessidade, a maior motivação de Paulo para levantar essa oferta era ajudar a unir cristãos judeus e gentios. Paulo era um missionário aos gentios, o que incomodava alguns dos cristãos judeus (At 17:21-25). O apóstolo esperava sarar algumas feridas e construir algumas pontes entre as igrejas. (Para mais informações sobre essa oferta, ver 2 Co 8 - 9.)
Apesar de se tratar de uma oferta missionária especial, podemos aprender com as instruções de Paulo alguns princípios básicos relacionados à mordomia cristã.
Ofertar é um ato de adoração. Cada membro devia ir ao culto no dia do Senhor preparado para contribuir com o que havia reservado para a oferta naquela semana. A Igreja primitiva reunia-se no primeiro dia da semana em comemoração à ressurreição de Jesus Cristo. (O Espírito Santo veio sobre a Igreja em Pentecostes, também no primeiro dia da semana.) É triste quando os membros da igreja contribuem apenas por obrigação e se esquecem de que nossas ofertas devem ser "sacrifícios espirituais" apresentados ao Senhor (Fp 4:18). Ofertar pode ser um ato de adoração ao Salvador, que ressurgiu e voltou ao céu.
A prática de ofertar deve ser sistemática. Alguns estudiosos acreditam que, na época de Paulo, muitos recebiam o salário no primeiro dia da semana. Mas, mesmo que não fosse o caso, cada cristão deveria separar sua oferta em casa e levá-Ia ao culto no primeiro dia. Paulo não desejava ter de fazer várias coletas quando chegasse a Corinto. Queria que a contribuição toda estivesse preparada. Se os membros das igrejas de hoje fossem tão sistemáticos em ofertar como são em lidar com outras questões financeiras, a obra do Senhor não sofreria como às vezes acontece.
A oferta era pessoal e individual. Paulo esperava que cada membro - rico ou pobre - participasse da oferta. Qualquer um que tivesse uma fonte de renda poderia ter o privilégio de compartilhar e de ajudar os necessitados. O apóstolo desejava que todos participassem da bênção.
A oferta deve ser proporcional. A oração "Conforme a sua prosperidade" (1 Co 16:2) indica que os cristãos com mais recursos deveriam contribuir mais. Os cristãos judeus na igreja estavam acostumados a dar o dízimo, mas Paulo não menciona qualquer proporção específica. Sem dúvida, o dízimo (10% da renda do indivíduo) é um bom começo para a prática da mordomia, mas não devemos nos ater a ele. À medida que o Senhor nos dá mais, também devemos planejar
de modo a contribuir mais.
O problema é que, para muitos cristãos, aumentos de salário levam a mais compromissos financeiros, o que faz com que não tenham proporcionalmente mais para ofertar ao Senhor. Em vez disso, encontram um "nível" adequado em que permanecer, estão sempre tentando "melhorar de vida", e sua
renda acaba sendo gasta em vez de ser investida.
Em 2 Coríntios 8 e 9, Paulo deixa claro que a contribuição cristã é uma graça, decorrente da graça de Deus em nossa vida, não de promoções ou de pressões. O coração aberto não consegue manter a mão fechada. Se compreendermos o valor real da graça de Deus que nos é concedida, teremos o desejo de expressar essa graça dividindo com outros.
O dinheiro deve ser administrado com honestidade. As várias igrejas envolvidas nessa contribuição especial nomearam representantes para ajudar Paulo a administrar a oferta e a levá-Ia em segurança a Jerusalém (para mais informações sobre a "comissão financeira" que ajudou Paulo, ver 2 Co 8:16-24). É triste quando ministérios cristãos perdem seu testemunho por não administrarem devidamente os recursos que lhe são confiados. Todo ministério deve ser extremamente profissional em suas questões financeiras. Paulo tomou o máximo de cuidado para não permitir que coisa alguma desse oportunidade a seus inimigos de acusá-lo de estar roubando fundos (2 Co 8:20, 21).
Isso explica por que o apóstolo incentivou as igrejas a participar da oferta e a escolher representantes de confiança para ajudar a administrá-Ia. Paulo não fazia objeção alguma à contribuição individual. Neste capitulo, bem como em Romanos 16, cita vários indivíduos que o ajudaram pessoalmente. Tal ajuda incluía, sem dúvida, seu sustento financeiro. Mas, de modo geral, a contribuição cristã deve ser centralizada na igreja. Muitas congregações usam o orçamento mensal da igreja para incentivar seus membros a ofertar para fins específicos.
É interessante que Paulo menciona a oferta logo depois da discussão acerca da ressurreição. Os manuscritos originais não eram divididos em capítulos, de modo que, do hino de vitória do apóstolo, os leitores passavam diretamente para sua discussão sobre o dinheiro. A doutrina e o dever andam juntos, como também a adoração e as obras. Nossa contribuição "não é em vão", pois nosso Senhor está vivo. É o poder de sua ressurreição que nos motiva a contribuir e a servir.