Depois de responder às perguntas sobre casamento, Paulo volta para um dos assuntos mais controversos da carta que havia recebido da igreja de Corinto: "Os cristãos podem comer carne que foi sacrificada a ídolos?" A questão imediata não é do interesse dos cristãos de hoje, uma vez que não enfrentamos esse problema. No entanto, a questão mais ampla da liberdade cristã aplica-se a nossa realidade, pois enfrentamos problemas com os quais Paulo nunca teve de lidar. É certo o cristão frequentar o teatro? Os cristãos podem ter televisão em casa? Até que ponto devem se envolver com a política?
Em 1 Coríntios 8 a 10, Paulo apresenta quatro princípios básicos que devem servir de diretrizes para os cristãos que precisam tomar decisões pessoais acerca de áreas "questionáveis" da vida. Os quatro princípios são:
O conhecimento deve ser contrabalançado pelo amor (1 Co 8).
A autoridade deve ser contrabalançada pela disciplina (1 Co 9).
A experiência deve ser contrabalançada pela cautela (1 Co 10:1-22).
A liberdade deve ser contrabalançada pela responsabilidade (1 Co 10:23-33).
Como podemos observar, Paulo dirige-se principalmente aos cristãos mais fortes da igreja, os que possuíam conhecimento espiritual e experiência e que entendiam sua autoridade e liberdade em Cristo. Os mais fortes devem cuidar dos mais fracos (Rm 14 - 15).
A questão da carne oferecida aos ídolos é tratada em 1 Coríntios 8 e 10, de modo que a estudaremos neste capítulo. Em 1 Coríntios 9, Paulo ilustra o princípio do uso correto da autoridade, explicando a própria política financeira; trataremos dessa questão no capítulo seguinte.
No mundo antigo, havia dois fornecedores de carne: o mercado (onde os preços eram mais altos) e os templos da cidade (onde sempre havia carne dos sacrifícios disponível). Os membros mais fortes da igreja sabiam que os ídolos não poderiam contaminar os alimentos, de modo que economizavam dinheiro comprando a carne mais barata vendida nos templos. Além disso, se um amigo não convertido os convidava para uma refeição na qual era servida carne sacrificial, os cristãos mais fortes aceitavam o convite, fosse para ir ao templo ou à casa do amigo.
Tudo isso ofendia os cristãos mais fracos. Muitos deles haviam sido salvos da idolatria pagã e não conseguiam entender como seus irmãos em Cristo podiam querer ter qualquer contato com carne sacrificada a ídolos. (Em Rm 14 - 15, os cristãos mais fracos tinham problemas com restrições alimentares e dias santos, mas a questão fundamentai era a mesma.) Essa controvérsia poderia acabar causando uma divisão na igreja, de modo que os líderes pediram o conselho de Paulo.
O apóstolo chama a atenção dos leitores para três fatores importantes.
1. Conhecimento (vv. I, 2). Os coríntios eram ricos em conhecimento espiritual (1 Co 1:5) e, na verdade, um tanto orgulhosos de suas realizações. Sabiam que um ídolo não era coisa alguma, apenas uma representação de um falso deus que só existia na mente obscurecida dos que o adoravam. A presença de um ídolo em um templo não era prova incontestável de que aquele deus era real. (Posteriormente, Paulo ressalta que, na verdade, a idolatria é a adoração a demônios.)
Assim, a conclusão é lógica: um deus inexistente não pode contaminar o alimento oferecido em seu altar.
Até aí, cristãos fortes mostram-se mais esclarecidos. Então, por que os cristãos mais fracos sentem-se perturbados com a posição deles, uma vez que é tão lógica? Porque nem todos os problemas são resolvidos com a lógica. A criança pequena que tem medo do escuro não é tranqüilizada por argumentos, especialmente se o adulto (ou irmão mais velho) assume uma atitude de superioridade.
O conhecimento pode ser uma arma com a qual lutar ou uma ferramenta com a qual edificar; tudo depende de como é usado. Se "ensoberbece", não pode "edificar".
Uma atitude de quem sabe tudo é evidência de ignorância. A pessoa que realmente conhece a verdade tem forte consciência de que também não sabe. Além disso, uma coisa é conhecer a doutrina, outra bem diferente é conhecer a Deus. É possível crescer em conhecimento bíblico e, no entanto, não crescer na graça de Deus nem no relacionamento pessoal com Deus.
A prova é o amor, o segundo fator do qual Paulo trata.
A prova é o amor, o segundo fator do qual Paulo trata.
2.Amor (w. 3-6). O amor e o conhecimento devem andar juntos; "seguindo a verdade em amor" (Ef 4:15). Alguém disse bem que "a verdade sem amor é brutalidade, mas o amor sem verdade é hipocrisia". O conhecimento é uma forma de poder que deve ser usada em amor. No entanto, o amor deve ser sempre controlado pelo conhecimento (ver a oração de Paulo em Fp 1:9-11). Os cristãos mais fortes na igreja de Corinto tinham conhecimento, mas não o usavam em amor. Em vez de edificar os irmãos e irmãs mais fracos, apenas se tornavam cada vez mais presunçosos.
A grande preocupação de Paulo era que os mais fortes dentro da igreja ajudassem os mais débeis a crescer e a deixar de ser fracos. Algumas pessoas têm a ideia equivocada de que os cristãos fortes são os que vivem de acordo com regras e regulamentos rígidos e que se ofendem quando outros exercitam sua liberdade em Cristo; mas não é o caso. Na verdade, são os cristãos fracos que sentem necessidade da segurança da lei e que temem usar sua liberdade em Cristo.
São eles que se mostram propensos a julgar e criticar os cristãos mais fortes e tropeçar naquilo que fazem. Por certo, isso torna difícil os irmãos e irmãs mais fortes ministrarem aos mais fracos.
É aqui que o amor entra em cena, pois "o amor edifica" e coloca os outros em primeiro lugar. Quando o conhecimento espiritual é usado em amor, o cristão mais forte pode tomar a mão do mais fraco e ajudá-lo a se levantar e caminhar de modo a desfrutar sua liberdade em Cristo. É impossível obrigar os cristãos imaturos a se alimentarem e transformá-los em gigantes. O conhecimento deve ser misturado com o amor, pois, de outro modo, o que aumentará não será o coração, mas apenas a presunção. Um pastor conhecido costumava dizer: "Alguns cristãos crescem; outros apenas incham". O conhecimento e o amor são dois fatores importantes, pois o conhecimento deve ser contrabalançado pelo amor, a fim de usarmos nossa liberdade cristã corretamente.
No entanto, há um terceiro fator. Consciência (w. 7-13). O termo consciência significa, simplesmente, "conhecer com" e é usado 32 vezes no Novo Testamento. A consciência é o tribunal interior no qual os atos são julgados e aprovados ou condenados (Rm 2:14, 15). A consciência não é a lei, mas dá testemunho da lei moral de Deus. O mais importante, porém, é que a consciência depende do conhecimento. Quanto mais conhecimento espiritual possuímos e praticamos, mais forte se torna a consciência.
Alguns cristãos têm a consciência fraca porque foram salvos há pouco tempo e não tiveram oportunidade de crescer. Como bebês, precisam ser guardados com cuidado.
Outros têm uma consciência fraca porque se recusam a crescer. Ignoram a Bíblia e a comunhão cristã e permanecem em estado de imaturidade (1 Co 3:1-4; Hb 5:1114). Mas alguns permanecem fracos porque temem a liberdade. São como uma criança com idade suficiente para ir à escola, mas que tem medo de sair de casa, por isso precisa ser levada para a escola todos os dias.
A consciência de um cristão mais fraco é facilmente contaminada (1 Co 8:7), golpeada (1 Co 8:12) e escandalizada (1 Co 8:13). Por isso, os irmãos mais fortes devem anuir voluntariamente aos mais fracos e não fazer nada que possa prejudicá-los. Talvez não faça mal algum ao cristão mais forte
participar de uma refeição idólatra no templo, mas pode ser prejudicial ao mais fraco. Paulo, em 1 Coríntios 8:10, adverte que os cristãos mais imaturos podem decidir imitar os irmãos e irmãs mais fortes e, desse modo, serem levados a pecar. É importante observar que os mais fortes cedem aos mais fracos em amor somente para ajudá-los a amadurecer. Seu propósito não é "mimá-los", mas sim edificá-los e ajudá-los a crescer. De outro modo, os dois se tornariam débeis.
Somos livres em Cristo, mas devemos ter cuidado para que nosso conhecimento espiritual seja moderado pelo amor e para que não tentemos os cristãos mais fracos a agir contra a consciência. Quando o conhecimento é contrabalançado pelo amor, os irmãos mais fortes exercem um ministério junto aos mais fracos, e os mais fracos crescem e se fortalecem.
E para que isso seja de fato uma realidade em nossas vidas gostaria de lhe convidar a fechar seus olhos se possível para orarmos a Deus
oração
Deus Eterno e Pai amado, é com satisfação que nos achegamos a tua presença afim de que os Senhor por meio do teu Espírito Santo continue operado em nossa mente para fazer uso devido do conhecimento que temos obtido, que nossas ações sejam regidas pelo amor, e ao vermos nossa realidade mediante nossa consciência não tenhamos nada do que nos envergonha. E que dia a dia tenhamos ainda mais disposição para ser um instrumento em tuas mãos. É o que te pedimos crendo no poder que a no nome de Jesus amém!!!
Reynan Matos
Teólogo
Fonte:
Comentário Bíblico Expositivo Warren W. Wiersbe. p. 777-779







