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sábado, 16 de junho de 2018

1 Coríntios | Capítulo 9

Este capítulo trata da política de Paulo com relação ao sustento financeiro e dá a impressão de ser uma interrupção em sua discussão sobre "as carnes oferecidas a ídolos". Na verdade, porém, não é uma interrupção, mas sim uma ilustração dos princípios que o apóstolo apresenta em 1 Coríntios 8 e l0. Paulo usa a própria experiência para ilustrar o emprego amadurecido da liberdade: era livre para receber o sustento da igreja de Corinto e, no entanto, escolheu abrir mão desse direito, a fim de alcançar um objetivo mais elevado.

É importante ter em mente que, em sua maioria, os gregos menosprezavam trabalhos manuais. Tinham escravos para fazer esse tipo de trabalho para que os cidadãos pudessem desfrutar de esportes, de filosofia e de lazer em geral. É evidente que os judeus davam grande valor ao trabalho honesto. Até mesmo os rabinos eruditos tinham uma profissão e ensinavam às pessoas que "aquele que não ensina o filho a trabalhar, o ensina a roubar". Paulo sabia fazer tendas e trabalhar com couro.

A fim de ilustrar o uso cristão dos direitos pessoais, Paulo apresenta dois argumentos em favor de sua política financeira como servo de Cristo.

Na primeira metade do capítulo, Paulo prova que tinha o direito de receber apoio financeiro da igreja de Corinto. Apresenta quatro justificativas para essa declaração.

Seu apostolado (vv. 1-6). O termo apóstolo significa "aquele que foi enviando sob comissão" e se refere, em primeiro lugar, aos doze apóstolos e a Paulo. Com os profetas do Novo Testamento, os apóstolos receberam a incumbência especial de lançar os alicerces da Igreja (Ef 2:20). Uma das qualificações para ser apóstolo era ter a experiência pessoal de ver o Cristo ressurreto (At 1:21,22). Paulo viu Jesus Cristo quando se encontrava a caminho de Damasco para prender cristãos (At 9:1-9). Os apóstolos deveriam ser testemunhas da ressurreição de Cristo (At 2:32; 3:15; 5:32; 10:39-43).

Os apóstolos também receberam o poder de realizar sinais e prodígios para autenticar a mensagem que pregavam (Hb 2:4). Paulo havia realizado milagres durante seu ministério em Corinto (2 Co 12:12). Na verdade, considerava a igreja de Corinto um "selo" muito especial do seu ministério como
apóstolo. Corinto era uma cidade que apresentava diversas dificuldades para o ministério, e, no entanto, com a capacitação do Senhor, Paulo realizou ali uma grande obra (ver At 18:1-17).

Portanto, como apóstolo, Paulo tinha o direito de receber algum sustento do povo para o qual havia ministrado. (No texto originai, o termo poder é usado seis vezes neste capítulo com o sentido de "autoridade, direito".) O apóstolo era representante de Cristo; merecia ser bem recebido e cuidado.
Paulo não era casado; mas, se tivesse uma esposa, ela também teria o direito de ser sustentada pela igreja. Pedro era casado (Mc 1:30), e sua esposa viajava com ele. Paulo tinha o mesmo direito, no entanto não o usou.

Paulo também tinha o direito de se dedicar ao ministério da Palavra em tempo integral. Não precisava fazer tendas. Os outros apóstolos não trabalhavam em ocupações diversas para se sustentar, pois se dedicavam inteiramente ao ministério da Palavra. Todavia, tanto Barnabé quanto Paulo trabalhavam com as próprias mãos para levantar não apenas seu sustento, mas também o sustento de seus colaboradores.

Experiência (v. 7). A experiência diária mostra que um trabalhador merece as recompensas de seu trabalho. Se um homem é convocado para o exército, o governo lhe paga um soldo e fornece os suprimentos necessários. O homem que planta uma vinha tem direito de comer de seus frutos, assim
como o pastor ou boiadeiro tem direito de usar o leite produzido pelo rebanho.

Talvez, em certo sentido, Paulo esteja comparando a igreja a um exército, a uma vinha e a um rebanho. Como apóstolo, Paulo encontrava-se na frente da batalha. Em outra passagem (1 Co 3:6-9), compara a igreja de Corinto a um campo cultivado, e o próprio Jesus usa a imagem da videira com seus ramos (Jo 15) e também do rebanho (Jo 10). A lição é clara: o obreiro cristão tem o direito de esperar benefícios em troca de seu trabalho. Esse princípio vale não apenas para a esfera "secular", mas também para a esfera espiritual.

A Lei do Antigo Testamento (vv. 8-12). O Antigo Testamento era a "Bíblia" da Igreja primitiva, uma vez que o Novo Testamento ainda estava sendo escrito. Mesmo livres dos mandamentos da Lei, os primeiros cristãos encontravam as orientações de que precisavam nos princípios espirituais da Lei. Nas palavras de Agostinho sobre os Testamentos da Bíblia: "O Novo se encontra oculto no Antigo; o Antigo é revelado no Novo". Paulo cita Deuteronômio 25:4 como prova de sua argumentação. (Cita esse mesmo versículo quando escreve a Timóteo e incentiva a igreja a pagar devidamente seus ministros; 1 Tm 5:17, 18.)

Uma vez que os bois não sabem ler, esse versículo não foi escrito para eles. Também não foi escrito apenas para o agricultor que se vale do trabalho dos bois. Seria crueldade o agricultor atar a boca do boi para não comer o trigo diante dele. Afinal, o boi estava trabalhando.

Paulo vê corretamente um princípio espiritual nesse mandamento: o trabalhador tem direito de participar dos frutos. O boi havia arado o solo, a fim de prepará-lo para a semeadura, e estava trilhando o trigo que havia sido colhido. Paulo havia arado o solo em Corinto. Vira a colheita resultante da semente que havia plantado. Nada mais certo do que participar dos frutos dessa colheita.

Paulo, em 1 Coríntios 9:11, declara um princípio fundamental da vida cristã: se recebemos bênçãos espirituais, devemos compartilhar bênçãos materiais. Os judeus, por exemplo, deram bênçãos espirituais aos gentios; de modo que coube aos gentios compartilhar suas bênçãos materiais com os
judeus (Rm 15:25-27). Os que nos ensinam a Palavra têm o direito de esperar sustento das igrejas (GI6:6-1 O). Temos razão para crer que Paulo aceitou apoio financeiro de outras igrejas. Os cristãos de Filipos enviaram duas ofertas a Paulo quando ele foi a Tessalônica (Fp 4:15, 16). Paulo lembrou os coríntios de que "[despojou] outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir" (2 Co 11:8). Ao que parece, outros ministros haviam aceitado o apoio financeiro da igreja de Corinto (1 Co 9:12), mas Paulo preferiu permanecer independente, "para não [criar] qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo". Seu desejo era dar o melhor exemplo possível para os outros cristãos (2 Ts 3:6-9).

A prática no Antigo Testamento (v. 13). Os sacerdotes e levitas viviam dos sacrifícios e ofertas levados ao templo. Os regulamentos que determinavam sua parte das ofertas e os dízimos especiais que recebiam podem ser encontrados em Números 18:832; Levítico 6:14 - 7:36; e 27:6-33: A aplicação é clara: se os ministros do Antigo Testamento, que viviam sob a Lei, eram sustentados pelo povo para o qual ministravam, acaso os servos de Deus que ministravam sob a graça também não deveriam ser sustentados?

Os ensinamentos de Jesus (v. 14). Paulo refere-se, sem dúvida, às palavras de Jesus em Lucas 10:7, 8 e em Mateus 10:10. Os coríntios não tinham uma cópia de nenhum dos evangelhos para consultar, mas os ensinamentos de Jesus lhes haviam sido transmitidos como parte da tradição oral compartilhada pelos apóstolos. O trabalhador é digno de seu salário é um princípio fundamental que a igreja não deve negligenciar. 

Por certo, a argumentação de Paulo foi convincente. Apresentou quatro justificativas conclusivas provando que tinha o direito de esperar algum apoio financeiro dos cristãos de Corinto, enquanto lhes ministrava. No entanto, havia deliberadamente recusado esse sustento. Na segunda parte de sua defesa, explica o motivo dessa recusa.

Que reside no amor ao Evangelho, aos pecadores e a si mesmo. E por isso, hoje gostaria de poder orar por aqueles que tem responsabilidades ministeriais, e vivendo do Evangelho, tem a missão de usar ainda mais sabiamente os recursos que tem sido posto em suas mãos. Então gostaria de lhe convidar a fechar seus olhos para orarmos a Deus

Oração

Deus Eterno e Pai amado, louvamos o teu nome, porque em tua preocupação conosco, habilitas alguns para atuarem como teus ministros, e para o exercício dessa responsabilidade o Senhor prover os recursos necessários para sua subsistência, bem como para poderem empreender afim de expandir teu reino. Abençoa de maneira especial aqueles filhos teus que tem sido fieis, nas devoluções dos dízimos, e principalmente aqueles que tem materializado sua gratidão nas ofertas. E que como Paulo o ministério de cada ministro seja pautado pelos ensinos da Bíblia Sagrada, movidos por amor ao teu reino e aqueles a quem buscas salvar. É o que te pedimos crendo no poder que a no nome de Jesus Amém!

Reynan Matos
Teólogo

Fonte:
Comentário Bíblico Expositivo Warren W. Wiersbe. p. 783-785