A Monalisa do Cristianismo

Muito enigma está em volta da Monalisa do pintor Leonardo da Vinci. No entanto no cristianismo também temos a nossa, pintada pelos evangelhos, que tem levantado a curiosidade de muitos estudiosos da Bíblia a descobrir quem de fato está por trás do retrato por eles pintado.

Antes de discorrer sobre o tema em questão, temos que destacar a importância de não valorizarmos posições de ordem secundaria em detrimento da mensagem principal do texto bíblico.

No caso em questão, "são ou não a mesma Maria de Magdala e Betânia?" independente de quem seja a Maria mencionada, o fato é que a Graça é manifesta na vida de todas elas, e elas permanecem fiel ao Deus dessa Graça até o fim, e isso não deveria ser minimizado por questões de outra ordem, que pouco ou nenhum outro proveito nos apresenta.

A razão para questões dessa natureza, é originaria do homônimos bíblicos, ou seja, pessoas que embora diferente possuem o mesmo nome, o que naturalmente leva o estudioso da Bíblia a confundir os personagens. 

IDENTIFICANDO AS MARIAS DO NOVO TESTAMENTO

1. Maria, mãe de Jesus: "Foi assim o nascimento de Jesus Cristo: Maria, sua mãe" Mateus 1:18

2. Maria, madalena: "Os Doze estavam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios". Lucas 8:1,2

3. Maria, de Betânia: "Havia um homem chamado Lázaro. Ele era de Betânia, do povoado de Maria e de sua irmã Marta [...]. Maria, sua irmã, era a mesma que derramara perfume sobre o Senhor e lhe enxugara os pés com os cabelos. João 11:1,2

4.Maria, mulher de Clopas: "Perto da cruz de Jesus estavam sua mãe, a irmã dela, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena". João 19:25

5. Maria, mãe de João Marcos: "dirigiu à casa de Maria, mãe de João, também chamado Marcos". Atos 12:12

6. Maria, cristã de Roma (Ao encerrar sua carta Paulo destina alguns cumprimentos nominalmente inclusive): "Saúdem Maria, que trabalhou arduamente por vocês". Romanos 16:6 

Isso posto, consideremos as personagens controversas

UMA MARIA OU DUAS MARIAS?

Entre todas as Marias mencionadas, a controvérsia repousa acerca da menção a duas cidades: Betânia e Magdala. 

Consideremos o contexto geográfico

Magdala: fica a 10 km de Cafarnaum, constituía de uma vila de pescadores próximo ao mar da Galileia.

Betânia: fica a 2,7 km de Jerusalém, constituía de uma aldeia, nos dias de hoje ela é chamada de el-Azariyeh "[aldeia] de Lázaro".

A distância de uma para outra é de mais de 150 km

Quem defende que ambas as referências se destinam a mesma pessoa, argumentam que; embora nascida em Betânia, por ocasião de sua má fama, ela tenha buscado em Magdala um novo lar, e após o seu encontro com Cristo, tenha retornado ao seu lar de origem.

Contudo, mesmo quem defende essa posição ressalta que: "Esta possibilidade não prova que Maria de Betânia e Maria de Magdala sejam a mesma pessoa, entretanto, mostra como isso poderia ter acontecido". (CBASD, v. 5, p. 842)

Deixando de lado o que não é claro, consideremos o que é objetivo na narrativa bíblica.

O QUE HÁ DE HARMONIA A ESSE RESPEITO NOS EVANGELHO?

1) Todos concordam que a ocasião era uma festa. 

2) Todos concordam que a pessoa que ungiu Jesus era uma mulher. 

3) Os três sinóticos concordam que o “unguento” estava num recipiente de alabastro; João não menciona o recipiente. 

4) Lucas e Mateus não mencionam o tipo de “unguento”, no entanto, Marcos e João declaram que era "nardo puro”. 

5) Lucas e João mencionam a unção dos pés de Jesus. 

6) Lucas e João mencionam o fato de Maria utilizar seus cabelos como toalha para secar os pés de Jesus. 

7) Os três evangelhos sinóticos indicam o nome do anfitrião como Simão. 

Embora essas semelhanças não provem, necessariamente, que o episódio de Lucas seja o mesmo relatado pelos outros três evangelistas, elas reforçam o grau de probabilidade dessa conclusão.

Uma observação para os que concordam ou discordam que Maria Madalena e a adúltera de João 8, são ou não a mesma pessoa. O Dr. Paroschi afirma que: "não há nada no texto que permita ou impeça uma identificação com Maria Madalena". 

A RECONSTITUIÇÃO DE ALGUNS FATOS

Maria Madalena: 

1. Só é mencionada pelo nome uma vez nos evangelhos, antes do relato da paixão de Cristo (Lc 8:2). 
2. Depois, ela é citada no contexto da crucifixão. Em companhia de outras mulheres que haviam acompanhado o Mestre desde a Galileia, 
3. Ela presenciou:
1.  a morte de Jesus (Mt 27:55, 56; Mc 15:40, 41; Jo 19:25), 
2. Seu sepultamento (Mt 27:61; Mc 15:47) 
3. E depois o túmulo vazio (Mt 28:1-7; Mc 16:1-8; Lc 23:55-24:22; Jo 20:1). 
4. João é o único a relatar o aparecimento de Jesus, após a ressurreição, exclusivamente a Maria Madalena (Jo 20:11-18).

Maria de Betânia:

1. Essa Maria é mencionada pelo nome apenas nos evangelhos de Lucas e João (Lc 10:38-42; Jo 11:1).
2. João menciona apenas que quem O ungiu foi Maria, irmã de Marta e Lázaro, e que o fato se deu em Betânia (Jo 12.3).
3. Os demais evangelhos também contêm um episódio de Jesus sendo ungido por uma mulher. Conforme destacamos no tópico anterior (Mt 26:6-13; Mc 14:3-9; Lc 7:37-50).
4. No geral, porém, não há porque negar que tanto João quanto Mateus e Marcos se referem ao mesmo episódio.
5. No evangelho de Lucas, as diferenças são bem maiores, em vários detalhes. O que segundo o Dr. Paroschi: "tem levado a maioria dos intérpretes modernos a postular dois episódios distintos: um descrito por Lucas, o qual teria ocorrido na Galileia, mais cedo no ministério de Jesus, e outro pelos demais evangelistas, ocorrido em Betânia poucos dias antes da crucifixão".
6. É importante destacar que nem todas as diferenças são necessariamente contraditórias; muitas delas são, na verdade, complementares. Talvez seja por isso que diversos pais da igreja tentavam harmonizar os relatos, dizendo, por exemplo, que Lucas descreve o mesmo episódio, só que num contexto diferente, e que, portanto, Maria de Betânia teria realizado a unção.

Então após esse levantamento o Pr. Paroschi esclarece que, diante das diferenças entre Lucas e os demais, temos que considerar que ele não segue uma ordem cronológica. Por isso "ele [Lucas] diz que Jesus havia curado Maria Madalena, expulsando dela sete demônios (Lc 8:2), o passo seguinte de vários escritores cristãos foi identificá-la como a “pecadora” mencionada no capítulo 7, por causa de sua profunda expressão de gratidão, ao ungir Cristo. Foi assim que Maria Madalena, Maria de Betânia e a “pecadora” mencionada por Lucas acabaram identificadas pela tradição da igreja como a mesma pessoa. O cenário estava formado para se dizer que a adúltera de João 8 era também a mesma mulher." 

ATENÇÃO!!!

Diante de tudo que fora esboçado até aqui, temos que admitir que a Bíblia não nos fornece todos os detalhes que necessitamos afim de que com  precisão identificarmos a real identidade dessa, ou dessas mulheres. Alguém poderia dizer: "A Bíblia deveria ter sido mas clara nesse questão". Contudo temos que levar em consideração que a Bíblia tem um compromisso de informar o que o ser humano precisa para ser Salvo, para conhecer a vontade do seu Deus para sua vida, e nada mais. Então a pergunta que deveríamos fazer a esses inquiridores é: "Em que a riqueza de detalhes da indenidade dessa ou dessas pessoas, interferem positivamente em nossa compreensão do plano de Salvação?".

PRUDÊNCIA!!!

Embora a Bíblia não seja explicita nesta questão, e poucos comentaristas ao que pode observar na breve pesquisa que fiz para escrever esse post, se posicionem entre uma posição e outra. Temos no livro O Desejado de Todas as Nações, uma informação que deveria trazer um certo esclarecimento, ao menos aos Adventistas do Sétimo Dia. Já que comentando o ocorrido na casa de Simão a autora descreve o seguinte:

"Aquela que caíra e cuja mente fora habitação de demônios, chegara bem perto do Salvador em associação e serviço. Foi Maria que se assentou aos pés de Jesus e dEle aprendeu. Foi ela que Lhe derramou na cabeça o precioso ungüento, e banhou os pés com as próprias lágrimas. Achou-se aos pés da cruz e O seguiu ao sepulcro. Foi a primeira junto ao sepulcro, depois da ressurreição. A primeira a proclamar o Salvador ressuscitado". (DTN, p. 568)

Ainda sim, dado ao desiquilíbrio de alguns e a arrogância da ignorância de outros, gostaria de finalizar com o conselho de duas autoridades para mim sobre o assunto:

Pr. Dr. Alberto Timm: "Seja como for, qualquer tentativa de identificação entre a mulher surpreendida em adultério com Maria Madalena não passa de mera inferência não sugerida explicitamente pelo texto bíblico ou pelos escritos de Ellen White. Portanto, essa teoria deveria ser considerada uma opinião pessoal de quem a advoga, sem o apoio dos comentaristas bíblicos".

Pr. Dr. Wilson Paroschi: "Pessoas não familiarizadas com os escritos de Ellen G. White podem não entender ou aceitar essa reconstituição. Mas, seu uso interno na igreja não devia necessariamente causar estranheza. [...] Seja como for, é importante que nos atenhamos ao ponto principal, que foi a forma extraordinária como Jesus [perdoa, e concede a possibilidade de uma nova vida]".

Reynan Matos

Fontes:

1. Revista Ministério, março-abril, 2010

2. Revista do Ancião, abril-junho, 2004

3.OMENTARIO biblico Adventista do Sétimo Dia: Mateus a João. Edição de Vanderlei Dorneles. Tradução de Rosangela Lira et al. Revisão de Luciana Gruber. Tatuí - SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013. v. 5 .

4. WHITE, Ellen G. O desejado de todas as nações. 2. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996.
5. Mapa de Israel nos dias de Jesus
6. Curiosidades bíblicas
7. O mistério sobre quem realmente foi Maria Madalena