As pautas de beleza parecem histórias da carochinha. “Lembra da minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos…” Caíram todos de tanta chapa, tintura, spray e secador! Mas o Photoshop tá aí pra resolver qualquer problema estético e, mesmo quem diz que não usa, leva pincelada. Não tem jeito! Eles precisam vender a imagem perfeita, e nós ficamos “seduzidos e bem pagos” em ser um modelo dessa mentira.
O problema é, depois, querer enfrentar a sociedade de cara lavada, sem filtros. E quando alguém dá a tal “cara lavada” a tapa? O grande “coro das mídias sociais” se une, em uma espécie de arena grega digital, e brada todo tipo de xingamento: Horrorosa!!! Gorda!!! Seca!!!
Descarregam, sobre você, toda sorte de impropérios, como se fosse uma espécie de vingança, por você ter desmitificado a beleza ou a perfeição das capas de revistas. Eu sou a tortura e a torturada! Aliás, vejo o dia em que vão postar: “FERNANDA LIMA ANTES E DEPOIS”. Algumas vezes, acho que esse será o dia em que descobrirei que meu tempo passou. Em outras, acredito que esse será um dia de glória, afinal, a “beleza real “ e a “beleza da capa” terão resolvido ter uma conversa franca. Espero que seja para enaltecer a beleza da vida real!
Cuidado para não criar uma imagem surreal de si mesma. Não tem jeito, famosos e anônimos têm muito em comum na hora em que a “beleza de capa” e a “beleza real” resolvem bater um papo. É bom saber que não há nada de errado em se arrumar, disfarçar algumas imperfeições, dar um tapa no cabelo… enfim, cuidar da imagem. O problema está em perder a identidade, em ser dependente de complementos quando você pode se sentir completo. O erro não está em ser bonito, mas sim em perder a autenticidade.
Não importa se todos dizem que você está ótimo. Sua opinião a respeito de si mesmo está consolidada, firme como uma pedra. “Não gosto do que vejo no espelho”, muitos pensam. Fico espantada em ver gente com tanta beleza demonstrando não encontrar nada de bom em sua aparência. Aí está um grande problema do ser humano: transformar tudo em algo ruim, até mesmo suas marcas registradas são vistas como defeituosidades.
Na minha adolescência, as pessoas não paravam de falar o quanto eu era magra. Muitos falavam isto como elogio, mas eu considerava uma ofensa. Fiquei revoltada e criei traumas. Pensava assim: “Quando eu for mais velha, vou colocar silicone até nas orelhas pra sair desse estado de tábua”. Hoje dou risada ao lembrar que vestia uma calça por baixo da outra só para parecer mais encorpada. Juro pra você! Eu odiava ter que usar saia ou vestido porque revelavam a verdadeira finura das minhas pernas. Tomei um monte de remédio pra engordar e me obrigava a comer muito, mesmo sem fome alguma. Chegava a passar mal.
Um dia uma moça me viu e disse:
— Manu do céu, você tá magérrima nesse vestido. Tá igual uma tábua!
Na hora, quase tive um ataque de pelancas… Quero dizer, de esqueletos. Fiquei chocada com o que ouvi. Achei uma ofensa das grandes. Mas notei que ela falava sorrindo, na maior naturalidade, sem maldade nenhuma.
— Nossa, tá linda, um arraso! — continuou.
Comecei a rir. Perguntei qual era a lógica e a relação dessas declarações, e o marido dela, que estava do lado, comentou:
— Acho que para as mulheres isso quer dizer a mesma coisa.
Fonte:
http://noticias.adventistas.org/pt/coluna/emanuele-salles