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quarta-feira, 20 de junho de 2018

1 Coríntios | Capítulo 13

Como disse Ionathan Swift, o autor satírico de As viagens de GuJiver: "Temos religião suficiente para nos fazer odiar, mas não para nos fazer amar". Por mais empolgantes e maravilhosos que sejam, os dons espirituais
são inúteis e até mesmo destrutivos, se não forem ministrados em amor. Nas três passagens em que a imagem do "corpo" é usada nas epístolas de Paulo, a ênfase é sobre o amor. A principal evidência de maturidade na vida cristã é um amor cada vez maior por Deus e pelo povo de Deus e também amor pelas almas perdidas. Alguém disse bem que o amor é o "sistema circulatório" do corpo de Cristo.

Poucos capítulos da Bíblia sofreram tantas distorções em sua interpretação quanto 1 Coríntios 13. Fora de seu contexto, ele se torna uma "canção de amor" ou um sermão sentimental sobre a fraternidade cristã. Muita gente não entende que, ao escrever essas palavras, Paulo está tratando dos problemas dos coríntios: o abuso do dom de línguas, a divisão na igreja, a inveja dos dons de outros, o egoísmo (como no caso dos processos judiciais), a impaciência uns com os outros nos cultos públicos e comportamentos que envergonhavam o nome do Senhor.

A única forma de usar os dons espirituais criativamente é fazer isso tendo o amor como motivação. Paulo explica três características do amor cristão e mostra por que é tão importante no ministério.

O amor é enriquecedor (v. 1-3). Paulo cita cinco dons: línguas, profecia, ciência, fé e doação (sacrifício). Ressalta que, sem amor, o exercício desses dons não é nada. As línguas sem amor não passam de barulho! É o amor que enriquece o dom e lhe dá valor. O ministério sem amor deprecia tanto o ministro quanto os que são alcançados por eles; mas o ministério com amor enriquece a igreja toda. "Seguindo a verdade em amor" (Ef 4:15).

Os cristãos são "por Deus instruídos que [devem amar-se] uns aos outros" (1 Ts 4:9). Deus Pai nos ensinou a amar enviando seu Filho (1 Io 4:19), e Deus Filho nos ensinou a amar dando sua vida e nos ordenando que amássemos uns aos outros (Jo 13:34, 35). O Espírito Santo nos ensina a amar uns aos outros derramando o amor de Deus em nosso coração (Rm 5:5). A lição mais importante na escola da fé é o amor mútuo. O amor enriquece tudo o que toca.

O amor é edificante (v. 4-7). "O saber ensoberbece, mas o amor edifica" (1 Co 8: 1). O propósito dos dons espirituais é a edificação da igreja (1 Co 12:7; 14:3, 5, 12, 17, 26). Isso significa que não devemos pensar em nós mesmos, mas nos outros, o que, por sua vez, exige amor.

Quando se reuniam, os coríntios mostravam-se impacientes uns com os outros (1 Co 14:29-32), mas o amor lhes daria longanimidade. Invejavam os dons uns dos outros, mas o amor removeria essa inveja. Estavam ensoberbecidos (1 Co 4:6, 18, 19; 5:2), mas o amor poderia remover esse orgulho e engrandecimento próprio e, em seu lugar, colocar um desejo de exaltar o outro. "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraterna" preferindo-vos em honra uns aos outros" (Rm 12:10).

Nas "refeições de ágape" e na Ceia do Senhor, os coríntios se comportavam de maneira extremamente indecorosa. Se conhecessem o significado do verdadeiro amor, teriam se comportado de maneira a agradar ao Senhor. Estavam entrando na justiça contra os irmãos! Mas o amor "não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal" (1 Co 13:5). A expressão não se ressente do mal significa "não guarda um registro das ofensas". Um dos homens mais miseráveis que já conheci era um cristão professo que, literalmente, anotava em um caderninho as ofensas que, a seu ver, outros haviam cometido contra ele. Perdoar significa limpar o registro e não guardar coisa alguma para usar contra as pessoas (Ef 4:26, 32).

O amor não se alegra com a iniquidade, mas os coríntios gabavam-se do pecado em sua igreja (1 Co 5). O "amor cobre multidão de pecados" (1 Pe 4:8). Como os filhos de Noé, devemos procurar cobrir os pecados dos outros e, então, ajudá-los a colocar as coisas em ordem (Gn 9:20-23).

Ao ler 1 Coríntios 13:4-7 com atenção e comparar esse texto com os frutos do Espírito relacionados em Gálatas 5:22, 23, podemos observar que todas as características do amor aparecem nesses frutos. É por isso que o amor edifica: libera o poder do Espírito em nossa vida e na igreja.

O amor permanece (v. 8-13). A profecia, a ciência e as línguas não são dons permanentes. (Ciência não significa "educação acadêmica", mas sim comunicação imediata de uma verdade espiritual à mente.) Esses três dons andavam juntos. Deus comunicava determinado conhecimento ao profeta, o qual transmitia a mensagem em línguas. Então, um intérprete (por vezes o próprio profeta) explicava essa mensagem. Os coríntios valorizavam esses três dons ao extremo, especialmente o dom de línguas.

Esses dons desaparecerão (serão abolidos) e cessarão, mas o amor durará para sempre; pois "Deus é amor" (1 [o 4:8, 16). Os coríntios eram como crianças usando brinquedos que, um dia, deixariam de existir. É esperado que uma criança pense, compreenda e fale como criança, mas também é esperado que amadureça e comece a pensar e falar como adulto. Um dia, deve "[desistir] das coisas de menino" (1 Co 13:11).

Encontramos no Novo Testamento (que naquela época ainda não havia sido completado) uma revelação completa, mas nosso entendimento dela é apenas parcial. (Para aqueles que não concordam, ver 1 Co 8:13.) Há um processo de amadurecimento para a igreja como um todo (Ef 4:11-16) e também para cada cristão como indivíduo (1 Co 14:20; 2 Pe 3:18). Só alcançaremos a plenitude quando Jesus voltar, mas, enquanto isso, é preciso continuar a crescer e a amadurecer. As crianças vivem em função de coisas temporárias; os adultos vivem em função de coisas permanentes. O amor é duradouro, e, portanto, aquilo que ele produz permanece.

É importante observar que as três graças cristãs permanecerão, mas a "fé se transformará em visão e a esperança se cumprirá". No entanto, a maior dessas três graças é o amor, pois quando amamos alguém, confiamos nele e sempre antevemos um novo gozo. A fé, a esperança e o amor andam juntos, mas é o amor que impulsiona a fé e a esperança.

Infelizmente, parte da ênfase sobre o Espírito Santo hoje não é santa (pois ignora as Escrituras) nem espiritual (pois apela para a natureza carnal). Não devemos dizer a outros cristãos que dons devem ter ou como podem obtê-los. Essa questão diz respeito à vontade soberana de Deus. Não devemos menosprezar os dons, mas também não devemos deixar de lado as graças do Espírito. 

E por isso gostaria de lhe convidar a fechar seus olhos se possível para orarmos a Deus por essa Graça que transforma, e redireciona-nos para o amor que edifica.

ORAÇÃO

Deus eterno e Pai amado, exaltado continuamente sejas tu na mente e no coração daqueles a quem criaste, e ao te louvar, possamos nos unir aqueles que nunca caíram. Dar nos o Deus a porção necessária do Espírito Santo, para nos tornamos cada vez mais semelhante a Jesus, e deste modo possamos nos achegarmos tranquilamente em tua presença. Que o amor que de te recebemos, enriqueça a nossa vida de tal modo que sejamos por ele também devidamente edificados, e ligados a videira venhamos a permanecer, é o que te pedimos crendo no poder que no nome de Jesus, amém!


Reynan Matos
Teólogo


Fonte:
Comentário Bíblico Expositivo Warren W. Wiersbe. p. 790-794