A igreja em Corinto perdia rapidamente seu testemunho à cidade. Não apenas os incrédulos sabiam da imoralidade na congregação, como também tinham conhecimento de processos legais envolvendo membros da igreja. Não se tratava somente de pecados da carne, mas também de pecados do espírito (2 Co 7:1).
Os gregos em geral, especialmente os atenienses, eram conhecidos por sua ligação com os tribunais de justiça. Em uma peça do dramaturgo grego Aristófanes, um dos personagens olha para um mapa e pergunta onde fica a Grécia. Quando alguém lhe mostra, ele responde que deve ser um engano, pois não vê julgamento algum em andamento! No entanto, os Estados Unidos estão adquirindo uma fama parecida: em um período recente de doze meses, foram mais de 200 mil processos civis levados às cortes federais. Há quase um milhão de advogados cuidando desses processos, e o número de profissionais nessa área só tem aumentado. Em um ano, os tribunais estaduais recebem mais de doze milhões de processos.
Paulo vê três aspectos trágicos envolvidos nessa situação.
Em primeiro lugar, os cristãos davam um péssimo testemunho aos não cristãos. Até mesmo os judeus incrédulos tratavam de seus litígios nos tribunais das próprias sinagogas. Ao levar os problemas dos cristãos aos tribunais do Estado e discuti-los diante de "injustos" e de "incrédulos", os cristãos enfraqueciam o testemunho do evangelho.
Em segundo lugar, a congregação não vivia à altura de sua posição em Cristo. Uma vez que, um dia, os santos participarão do julgamento do mundo e até dos anjos caídos, devem ser capazes de acertar suas diferenças aqui na Terra. Os coríntios orgulhavam se de seus dons espirituais maravilhosos. Então, por que não usavam esses dons para resolver seus problemas?
Os estudiosos da Bíblia não apresentam um consenso quanto ao significado de 1 Coríntios 6:4. Alguns acreditam que se trata de certo sarcasmo: "Vocês estariam em uma situação melhor se pedissem ao membro mais fraco da igreja para resolver a questão do que a levando para o mais qualificado dos juízes incrédulos!" Outros entendem a oração "constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja" como uma referência a juízes pagãos. Talvez Paulo esteja dizendo que Deus pode até usar o menor dos membros de uma igreja para discernir sua vontade. O resultado continua sendo o mesmo: é errado os cristãos levarem processos legais contra outros cristãos aos tribunais civis.
Existem, por vezes, "processos amigáveis" exigidos pela lei para acertar determinadas questões. Não é a esse tipo de processo que Paulo se refere. Ao que parece, os membros da igreja litigavam entre si, tentando ganhar sua causa nos tribunais. Fico feliz em ver que, hoje em dia, é comum encontrar nas igrejas advogados cristãos dispostos a servir de árbitros em processos civis e ajudar a resolver tais questões fora dos tribunais.
O terceiro aspecto trágico: os membros que processavam uns aos outros já haviam perdido. Mesmo que alguns deles ganhassem o processo, todos haviam sofrido uma perda muito maior por sua desobediência à Palavra de Deus. A declaração: "O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros" (1 Co 6:7) pode ser traduzida por: "Esse simples fato já é uma derrota completa para vocês". Sem dúvida, Paulo está se referindo a Mateus 5:39-42. Melhor perder dinheiro ou bens do que perder um irmão em Cristo e também nosso testemunho.
Ao longo dos anos em que estou no ministério, tenho visto o resultado de igrejas e de membros de igreja tentando resolver problemas pessoais na justiça. Ninguém sai ganhando, exceto o diabo! Os coríntios que recorriam à justiça desonravam o nome do Senhor e da igreja tanto quanto o homem culpado de incesto, portanto precisavam ser disciplinados.
O teólogo Wiersbe conta de um aluno de teologia que o telefonou para dizer que havia decidido processar seu seminário. Ao que parece, a administração não lhe permitiu fazer algo que considerava absolutamente necessário a sua educação acadêmica. Ao que ele o aconselhou a "esfriar a cabeça", a conversar com o conselheiro do corpo docente e a procurar outra solução. Seguiu meu conselho e, ao fazê-lo, não apenas evitou dar um péssimo testemunho, mas também cresceu espiritualmente por meio dessa experiência.
Havia grande devassidão na cidade de Corinto. Era uma sociedade permissiva, com uma filosofia semelhante à do mundo de hoje. Uma vez que o sexo é uma função física normal, por que não usá-lo como nos parece melhor? Paulo ressaltou que Deus criou o sexo quando fez o primeiro homem e a primeira mulher, portanto tem o direito de nos dizer como usá-lo. A Bíblia é o "manual do proprietário" e deve ser obedecida.
Deus condena os pecados sexuais, alguns dos quais são citados por Paulo em 1 Coríntios 6:9. Naquele tempo, a idolatria e a lascívia andavam juntas. Os termos "efeminados" e "sodomitas" referem-se aos parceiros ativos e passivos em uma relação homossexual (Paulo trata do homossexualismo e especificamente do lesbianismo em Rm 1:26, 27). Em 1 Coríntios 6:10, Paulo repreende os membros culpados de pecados do espírito, os que litigavam uns contra os outros por causa de sua cobiça.
No entanto, Deus também pode purificar os pecados sexuais e transformar os pecadores em novas criaturas em Cristo. "Mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados" (1 Co 6:11). Os tempos verbais indicam uma transação concluída. Agora, em função de tudo o que Deus havia feito por eles, tinham uma obrigação para com o Senhor de usar o corpo para seu serviço e para sua glória.
Deus, o Pai (v. 12-14). Foi ele quem criou nosso corpo e, um dia, o ressuscitará em glória (1 Co 15 trata da ressurreição em
mais detalhes). Uma vez que nosso corpo tem uma origem tão maravilhosa e um futuro ainda mais maravilhoso, como dedicá-lo a propósitos tão perversos?
Os coríntios usavam dois argumentos. Em primeiro lugar: "Todas as coisas me são lícitas" (1 Co 6:12). Essa era uma expressão em voga em Corinto e tomava como base um conceito falso da liberdade cristã. Não fomos libertos só para entrar em outro tipo de servidão! Como cristãos, devemos nos perguntar: "Isso irá me escravizar? Essa atividade é, de fato, proveitosa para minha vida?
O segundo argumento deles era: "Os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos" (1 Co 6:13). Consideravam o sexo um apetite a ser saciado, não uma dádiva a ser guardada e usada com cuidado. A lascívia está para o sexo assim como a glutonaria está para os alimentos;
os dois são pecaminosos e têm conseqüências trágicas. Só porque temos certos desejos normais, dados por Deus na criação, isso não significa que devemos nos entregar a eles e
satisfazê-los a todo tempo. O sexo fora do casamento é destrutivo, enquanto o sexo dentro do casamento pode ser criativo e belo.
E por isso o convite de Deus para nós é que levemos uma vida em unidade com Ele, e não com os prazeres da natureza pecaminosa. E se você desejar dizer sim a esse convite gostaria de lhe convidar a fechar os olhos se possível para orarmos a Deus.
Oração
Deus eterno, e Pai amado, louvado seja o teu nome porque em meio a degradação que a humanidade se envolveu o Senhor não nos abandonou e o Teu Santo Espírito tem trabalhado constantemente em nosso favor e a prova disso, é vista a cada momento que temos os nossos instintos naturais refreados, quer seja para revidarmos a uma aparente injustiça praticada contra nós, quer seja na repressão da imoralidade seja essa de ordem sexual ou moral. Opera em nós a transformação que nos seja necessária para termos cada vez mais intimidade de atuarmos em unidade contigo, é o que te pedimos crendo no poder que a no nome de Jesus Amém.
Reynan Matos
Teólogo
Fonte
Comentário Bíblico Expositivo Warren W. Wiersbe. p. 763-765