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segunda-feira, 25 de junho de 2018

2 Coríntios | Capítulo 2

Um dos membros da igreja de Corinto causou grande sofrimento a Paulo. Não sabemos ao certo se foi o mesmo homem sobre o qual Paulo escreveu em 1 Coríntios 5, o homem que vivia abertamente em pecado com sua madrasta, ou se foi outra pessoa, alguém que desafiou em público sua autoridade apostólica. Paulo havia passado rapidamente pela igreja de Corinto para tratar desse problema (2 Co 12:14; 13:1) e também havia lhes escrito uma carta muito triste sobre essa situação. Em tudo isso, o apóstolo revelou um coração compassivo. Vejamos as evidências do amor de Paulo.

O amor coloca os outros antes de si (v. 1-4). Paulo não pensava nos próprios sentimentos, mas sim nos sentimentos dos outros. No ministério cristão, os que são motivo de maior alegria também podem causar grandes tristezas, como é o caso nesta situação. Paulo escreveu uma carta severa, resultante da angústia de seu coração e envolta em amor cristão. Seu grande desejo era que a igreja obedecesse à Palavra, disciplinasse o transgressor e trouxesse de volta a pureza e a paz para a congregação.

"Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos" (Pv 27:6). Paulo sabia que suas palavras iriam ferir pessoas que amava, e isso enchia seu coração de dor. No entanto, sabia também (como todos os pais amorosos) que há grande diferença entre ferir alguém e lhe fazer mal. Às vezes, os que nos amam precisam nos ferir a fim de nos impedir de fazermos mal a nós mesmos.

Paulo poderia ter exercido sua autoridade apostólica e ordenado que as pessoas o respeitassem e lhe obedecessem; mas preferiu ministrar com paciência e amor. Deus sabia que a mudança de planos de Paulo havia sido motivada por seu desejo de poupar a igreja de mais sofrimento (2 Co 1:23, 24). O amor sempre leva em consideração os sentimentos dos outros e procura colocar o bem dos outros acima de tudo.

O amor também procura ajudar os outros a crescer (v. 5, 6). Convém observar que Paulo não menciona o nome do homem que se opôs a ele e dividiu a congregação. Mas o apóstolo disse à igreja que deveria disciplinar esse homem para seu próprio bem. Se a pessoa à qual se refere é o transgressor mencionado em 1 Coríntios 5, estes versículos indicam que a igreja reuniu-se e disciplinou o homem e que ele se arrependeu de seus pecados e foi restaurado.

A verdadeira disciplina é sinal de amor (ver Hb 12). Alguns pais mais jovens com "idéias modernas" sobre a criação de filhos recusam-se a disciplinar crianças desobedientes, pois afirmam que as amam demais para corrigi-Ias. Mas, se realmente amassem os filhos, fariam justamente o contrário.

A disciplina dentro da igreja não é assunto visto com bons olhos, tampouco é uma prática amplamente difundida. Muitas igrejas varrem os problemas para debaixo do tapete em vez de obedecer às Escrituras e de confrontar a situação com ousadia "seguindo a verdade em amor" (Ef 4:15). A "paz a qualquer custo" não é um princípio bíblico, pois não pode haver paz espiritual verdadeira sem pureza (Tg 3: 13-18). Problemas varridos para debaixo do tapete costumam se multiplicar e criar conflitos ainda maiores mais adiante.

Na verdade, o homem confrontado por Paulo e disciplinado pela igreja beneficiou-se dessa atenção carinhosa que recebeu. Quando eu era criança, nem sempre gostava de ser disciplinado por meus pais. Hoje, porém, posso olhar para trás e agradecer a Deus por eles terem me amado o suficiente
a ponto de me causar dor e, desse modo, impedir que eu fizesse mal a mim mesmo. Hoje entendo o que significam as palavras que eles diziam sempre: "Isso dói mais em nós do que em você".

O amor perdoa e encoraja (v. 7-11). Paulo instou a congregação a perdoar o homem e fundamentou essa admoestação em motivos incontestáveis. Em primeiro lugar, deveriam perdoar o homem por amor a ele, "para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza" (2 Co 2:7, 8). O perdão é o remédio que ajuda a curar o coração ferido. É importante que a igreja afirme e demonstre claramente seu amor pelo membro arrependido.

Em meu próprio ministério pastoral, tenho participado de reuniões em que membros disciplinados foram perdoados e restaurados à comunhão, e essas ocasiões foram pontos altos e solenes de minha vida. Quando uma igreja garante a uma irmã ou a um irmão perdoado que o pecado foi esquecido e a comunhão restaurada, pode-se sentir a presença do Senhor de maneira especial nessa experiência maravilhosa. Depois que os pais disciplinam um filho, devem lhe asseverar seu amor e perdão; do contrário, a disciplina fará mais mal do que bem.

A igreja deve reafirmar seu amor pelo irmão perdoado por amor ao Senhor (2 Co 2:9, 10). Afinal, a disciplina é tanto uma questão de obediência ao Senhor quanto uma obrigação para com o irmão. O problema não era apenas entre o irmão em pecado e o apóstolo entristecido, também era entre um irmão em pecado e um Salvador entristecido. O homem havia pecado contra Paulo e contra a igreja, mas, acima de tudo, havia pecado contra o Senhor. Quando líderes acanhados da igreja tentam "caiar" situações em vez de enfrentá-Ias com honestidade, sua atitude entristece o coração do Senhor.

Paulo apresenta um terceiro motivo: devem perdoar o transgressor por amor à igreja (2 Co 2:11). Quando existe na igreja um espírito de rancor por causa de pecados não tratados de forma bíblica, Satanás encontra uma brecha para trabalhar no meio dessa congregação. Quando nutrimos um espírito rancoroso, entristecemos o Espírito Santo e "[damos] lugar ao diabo" (Ef 4:27-32).

Um dos "artifícios" de Satanás é acusar cristãos que pecaram de modo a levá-los a crer que não há esperança para eles. Recebi telefonemas e cartas de pessoa pedindo minha ajuda, pois se encontram sob opressão e acusação satânicas. O Espírito Santo nos convence do pecado, de modo que os confessemos  e busquemos a purificação em Cristo; mas Satanás nos acusa de pecado para que entremos em desespero e desistamos. 

Quando uma irmã ou um irmão transgressor é disciplinado de acordo com a Bíblia e se arrepende, a congregação deve perdoá-lo e restaurá-lo como membro, e a questão deve ser esquecida e nunca mais voltar à baila. Se uma congregação - ou alguma pessoa dessa comunidade - possui espírito rancoroso, Satanás usará essa atitude como ponto de partida para novos ataques à igreja.

Paulo conseguiu superar os problemas que enfrentou porque tinha a consciência limpa e o coração compassivo.