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domingo, 11 de novembro de 2018

Gênesis | Capítulo 30


Esse capítulo é marcado por grandes disputas. Primeiro entre as irmãs, depois entre o sogro e o genro.

Contudo, o modo como ele inicia, ou melhor continua, é extremamente dramático, já que Lia era mãe de quatro filhos (Gên 29. 32-35). E Raquel até agora não tinha nenhum, e colocando a questão como um caso de vida ou morte. (v. 1)

O que leva Jacó a ficar irritado por coloca-ló em uma condição que estava além de suas condições. E o mesmo se dá em muitos relacionamentos, quer seja de esposa para com o marido, ou vice versa, assim como de filhos para os pais, e vice versa. E o mesmo se dá em círculos sociais, e profissionais. É sempre comum encontrarmos pessoas responsabilizando outras pela solução do que está além de suas capacidades.

A semelhança de Sara, Raquel encontra saída em entregar sua serva Bila para solucionar seu problema (v. 4). Com isso observamos que não é de hoje que as pessoas procuram resolver um problema por meio de outro.

"A proposta de Raquel, que Jacó aceitou e executou, era tão pecaminosa quanto a de Sara (Gn 16:2), mas sem a desculpa de Sara, uma vez que não havia então nenhum problema relacionado a um herdeiro para Jacó. E, se de fato existisse tal razão, isso não justificaria o ato, que mesmo no caso de Abraão havia sido tão claramente condenado". (CBASD, v. 1, p. 404)

E Lia não diferente de sua irmã, acompanha a mesma prática, e entrega Zilpa para se deitar com seu marido (v.9).

E Jacó se aparta do status de bígamo, o que já era ruim, para se encontra em uma condição ainda pior de concubinato.

E assim fica constituída a sua casa, com:

Lia ele teve: 1.Rubéns, 2.Simeão, 3.Levi, 4.Judá, 9. Issacar, 10. Zebulom, e ainda Dina
Bila ele teve: 5. Dã, 6. Naftali
Zilpa ele teve: 7. Gade, 8. Aser
Raquel ele teve: 11. José

A que ponto o pecado pode levar a degradação do homem, Jacó ficou relegado a umas mandrágoras, já que ao  valor deles ele foi alugado por Raquel. Tal atitude, mostra a real natureza de Raquel, apesar de Lia não se afastar muito, já que mais uma vez consentiu com a negociação como no caso com seu pai para enganar seu esposo (Gn 29. 25).

"As mandrágoras estavam associadas com o amor. A superstição popular admitia-as como antídoto contra a esterilidade. A barganha efetuada por Raquel não proporcionara o resultado almejado. O verso 22 mostra ser Deus, e não a mágica ou a superstição humana, que promove a fertilidade". (Shedd). 

Raquel no verso 24, é um clássico modelo das pessoas que nunca estão satisfeita com o que possuem, a despeito do que seja. José nem havia nascido direito e ela já pediu outro. Tem você vivido como Raquel, insatisfeito com o que possui, e quando recebe algo quer mais do que recebeu? claro que falamos aqui do desejo daquilo pelo que não é essencial a vida.

Após todo esse contratempo matrimonial, Jacó se ver em outro impasse familiar e financeiro. Ele deseja a restituição do que lhe é de direito para seguir sua vida com sua família, mais o seu sogro não estava pronto para abandonar sua muleta de bênçãos. (v. 27)

Porque me refiro a Jacó como as muletas de Labão, porque Deus com certeza estaria desejoso de abençoa-lo por sua relação direta com Labão, mas este se limitou a se achegar as benesses divinas, por meio de um terceiro, ao invés de se achegar ele mesmo a luz inacessível.

Em contra-partida temos aqui uma questão para ser ponderada pelos filhos de Deus de qualquer época. Temos nós sido a razão do cuidado de Deus por aqueles que estão a nossa volta em virtude do nosso relacionamento com Ele? (v. 27, 30)



Já tive o desprazer de encontrar  professos cristão, que se contentavam com faziam algo que não trariam benefícios a terceiro, principalmente a seus patrões. (v. 30) Uma realidade totalmente diferente daquela vivida pelo patriarca.

Labão é aquele tipo de pessoa que bom senso é algo que dura tanto na sua mente quanto um espirro. No mesmo instante em que ele admite ser abençoado por Deus em virtude de Jacó, no outro segundo ele se coloca em uma posição de falsa generosidade, ao perguntar: "que te darei?" (v. 31). E são por pessoas como Labão que temos que ter a firmeza de Jacó a mim não me darás nada, receberei pelo que trabalhei.

No combinado exposto por Jacó (v. 32-34), Labão mais uma vez revelou sua natureza gananciosa (v. 35-36). Mais o resultado final de sua ganância não passa de prejuízo. (v. 42)

"Na verdade, Jacó estava estipulando salário muito módico, visto que as ovelhas orientais eram, quase todas, brancas, enquanto os cabritos eram normalmente pretos, Parece que Jacó deliberara, assim, em confiar que Deus havia de prover toas as coisas nos termos da bênção anunciada. Deus o fez de modo admirável!". (Shedd, v. 27)

Este capítulo nos ensina que (Shedd, 43[adaptado]):

1. Não é sempre de acordo com nossos desejos ou planos, que Deus proporciona bênçãos. Por isso a descendência do Messias vem dele com Lia, e não com Raquel.
2. Astuto e interesseiro, Jacó não deixou de dar testemunho de que, finalmente havia recebido suas bênçãos de Deus.
3. Paciência divina não se exaure em face da indignidade de seus servos. 

"Quanta coisa boa não teria Deus visto em Jacó, para assim esperar através de tantos anos, disciplinando-o, conduzindo-o e, até mesmo, fazendo o melhor uso de seus erros e pecados! Não é assim mesmo que Deus age para conosco? E não convirá a que sejamos pacientes, da mesma forma, para com os nossos semelhantes?" (Shedd, v. 43)

Reynan Matos
Teólogo

Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia

V. 1

"Dá-me filhos. O sucesso de Lia como mãe despertou o ciúme de Raquel a tal ponto que ela não pôde mais suportar. Ora, a inveja é "a podridão dos ossos" (Pv 14:30), e "duro como a sepultura [é] o ciúme" (Ct 8:6). Embora desfrutasse de um quinhão maior da afeição do esposo, Raquel não podia estar contente enquanto a irmã a ultrapassava naquilo que era, para um oriental, o mais importante de todos os deveres de esposa - a maternidade. Sara já estava casada havia pelo menos 25 anos quando Isaque nasceu. Rebeca havia esperado
em vão durante 20 anos por um filho quando ela e Isaque se voltaram para Deus em oração. Mas a espera em face da competição havia deixado Raquel impaciente de ciúmes relativamente pouco tempo após o casamento, e em amargura de espírito ela censurou a Jacó". (CBASD, v. 1, p. 404)

V. 2

"Estou eu em lugar de Deus? O colérico desagrado de Jacó foi naturalmente despertado pelas palavras impróprias de sua esposa favorita. Ele se recusou a levar a culpa por uma situação que só Deus podia mudar. Raquel sabia muito bem que só Deus podia remover a esterilidade (v. 6), mas parece que momentaneamente não enxergava isso devido ao ciúme que tinha de Lia. A resposta de Jacó também manifestou falta de espiritualidade. Por que ele não sugeriu à sua desapontada e amargurada esposa que buscasse
ajuda na oração, como seus pais haviam feito antes de ele próprio nascer? Em vez de fazer isso, concordou com uma proposta que não passava de um recurso pecaminoso". (CBASD, v. 1, p. 404)

V. 3

"Eis aqui Bila, minha serva. A proposta de Raquel, que Jacó aceitou e executou, era tão pecaminosa quanto a de Sara (Gn 16:2), mas sem a desculpa de Sara, uma vez que não havia então nenhum problema relacionado a um herdeiro para Jacó. E, se de fato existisse tal razão, isso não justificaria o ato, que mesmo no caso de Abraão havia sido tão claramente condenado". (CBASD, v. 1, p. 404)

V. 4

"Jacó a possuiu. O relaxamento de Jacó no casamento começou com a poligamia e terminou com o concubinato. Embora Deus tenha feito com que essa circunstância acabasse contribuindo para o desenvolvimento
da descendência de Israel, nem por isso colocou Sua aprovação sobre tal costume".  (CBASD, v. 1, p. 404)

V. 6

"Dã. Raquel, que havia considerado sua esterilidade uma injustiça em vista da fecundidade de Lia, considerou o nascimento de Dã uma vindicação divina de sua conduta. Ela expressou claramente esta convicção quando disse: "Deus me julgou" ou "me fez justiça", razão pela qual ela o chamou Dã, "juiz". Sua declaração, "e também me ouviu a voz", significa que ela havia orado sobre o assunto ou que considerava o nascimento de Dã como a resposta de Deus a suas amargas queixas (v. 1)". (CBASD, v. 1, p. 404)

V. 9

"Vendo Lia. Acostumada a ter um filho por ano, Lia ficou impaciente quando lhe pareceu que não conceberia mais. O fato de Raquel ter obtido filhos através de sua serva não havia perturbado Lia enquanto havia a possibilidade de ela ter seus próprios filhos , mas ela se tornou então vítima da inveja, como antes havia acontecido com a irmã. O meio empregado por Raquel para conservar o favor de Jacó deixou Lia com ciúmes,  e o ciúme a levou ao emprego do mesmo método de Raquel. Contudo, Lia parece ter estado consciente de que seguia uma artimanha de seu próprio coração, uma vez que não fez qualquer referência a Deus em suas declarações por ocasião do nascimento dos dois filhos de Zilpa". (CBASD, v. 1, p. 405)

"Quanto a Jacó, é surpreendente ver a facilidade com que ele consentiu em levar avante as sugestões tortuosas de suas esposas a fim de lhes aumentar a prole. Se ele pensava ter alguma desculpa quando tomou Bila para satisfazer sua amada Raquel, que não tinha filhos próprios, com que desculpa acalmou a consciência com respeito à proposta de Lia, que já tinha quatro filhos? Havendo enveredado pelo caminho do erro, ele parece não ter visto quão objetável era sua conduta nem ter pensado nas possíveis consequências. Por outro lado, é preciso admitir que, ao fazê-
lo, ele seguiu um costume comum em seus dias. Pelo código de leis de Hamurábi e outros documentos cuneiformes, sabe-se que essa prática era legal e socialmente aceitável, particularmente quando a esterilidade impedia que a pessoa tivesse filhos. A existência desse costume é provavelmente a principal razão pela qual Abraão e Jacó não viram nenhum problema em tomar suas servas como concubinas". (CBASD, v. 1, p. 405)

V. 13

"Nas declarações que havia feito por ocasião do nascimento dos três primeiros filhos, Lia havia reconhecido a Yahweh (Gn 29:32, 33, 35). Agora, com relação aos que nasceram de sua serva, ela parece não pensar em Deus. Eles foram o resultado bem-sucedido e bem-vindo de um estratagema astuto". (CBASD, v. 1, p. 405)

V. 15

"E Raquel, talvez em contraste com Lia, parece que tinha mais fé em mandrágoras do que no poder de Deus. Com o tempo, porém, ela aprendeu a confiar em Deus em vez de nas mandrágoras (ver Gn 30:22; SI 127:3)". (CBASD, v. 1, p. 405)

V. 22

"Lembrou-se Deus de Raquel. Parece que Raquel, por fim, acabou levando seu problema ao Senhor em oração. Sua petição foi ouvida, e a fé obteve o que a impaciência e a incredulidade haviam impedido até então". (CBASD, v. 1, p. 406)

V. 23

"uma mulher estéril não era objeto de pena, mas de desprezo [...] Entre os judeus, a esterilidade era considerada justificativa para o divórcio, a poligamia e o concubinato". (CBASD, v. 1, p. 406)

V. 25

"parece que José nasceu no final do 14° ano ele serviço que Jacó prestava a Labão, sete anos após o casamento (ver Gn 29:21-28). Não é inteiramente laro se os 11 filhos que então Jacó possuía haviam todos nascido durante os sete anos decorridos entre o casamento e o final desses 14 anos ele serviço a Labão, ou se alguns deles nasceram durante os seis anos restantes dos 20 que ele passou ali (31:38)". (CBASD, v. 1, p. 406)

V. 28

"Por trás de Labão estava o maligno, tentando frustrar o plano de Deus por impedir, se possível, a volta de Jacó à terra da promessa". (CBASD, v. 1, p. 407)

V. 43

"E o homem se tornou mais e mais rico. As relações de Jacó com Labão constituem uma história em que a astúcia e a habilidade lutam contra a avareza e a desonestidade. A astúcia, que aplica um conhecimento superior, é muitas vezes a arma dos fracos contra os fortes. Pessoas cobiçosas e traiçoeiras, mas destituídas de sabedoria, muitas vezes são sobrepujadas por outras de caminhos igualmente tortuosos, porém mais astuciosos. A justiça estava do lado de Jacó. Ele estava simplesmente tirando vantagem de sua nova posição para compensar a desvantagem sob a qual havia trabalhado por 14 anos. Contudo, não usou de estrita honestidade e integridade. Faltavam-lhe a franqueza e a simplicidade de caráter que as pessoas esperam encontrar num justo. O plano de Jacó certamente foi muito bem-sucedido, mas não é um plano que se esperaria que um servo de Yahweh seguisse. Jacó errou, além disso, em confiar mais em sua própria engenhosidade para assegurar a bênção divina que lhe fora prometida, do que no poder e na providência de Deus. Porém, por sua vez, ele atribuiu seu sucesso ao poder de Deus (Gn 31:9)". (CBASD, v. 1, p. 409)

Pesquisar sobre:

1. "Para uma discussão detalhada e científica do assunto, ver Frank Lewis Marsh, Estudos sobre Criacionismo [Santo André: CPB, 1952], 338-345". (CBASD, v. 1, p. 408)
2. Leis da hereditariedade.
3. Transmissão de características recessivas.